O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de queda da taxa básica de juros, por unanimidade, depois de sete cortes. Manteve-se a taxa Selic em 10,5%. É uma das mais altas do mundo, porém, as razões para isso são de ordem objetiva: o desequilíbrio fiscal e um cenário internacional carregado de incertezas. O fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover ataques sistemáticos ao BC — antes, durante e depois da reunião do Copom —, somente reforçou a importância da decisão tomada.
Na reunião anterior, em maio, a intenção de reduzir o ritmo de corte da taxa de juros de 10,75% para 10,5% foi adotada por 5 a 4, com o voto a favor do presidente do BC. Essa votação poderia até ser considerada normal pelo mercado, em se tratando de um colegiado, não houvesse, à ocasião, uma nítida divisão entre os integrantes mais antigos do Copom, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a maioria, e os novos diretores alçados ao posto por Lula. Agora, a unanimidade fortaleceu a credibilidade do BC.
Manter a taxa de juros foi uma forma de afastar temporariamente o temor de interferência do Executivo no Copom a partir de dezembro, quando acaba o mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Uma diretoria partidarizada, sob comando direto de Lula, seria um golpe de morte na autonomia da autoridade monetária e sua capacidade de manter o controle inflacionário por meio da política monetária. Lula acredita que o controle da inflação virá pela via do aumento da arrecadação, para alcançar o equilíbrio fiscal, e dos investimentos públicos, cujo objetivo seria acelerar o crescimento.
Essa é uma política que foi testada várias vezes ao longo da história e não deu certo. A última tentativa foi um desastre econômico e político para o país, porque nos levou à recessão econômica e à deposição da então presidente Dilma Rousseff. Não por acaso, o comunicado do Copom sinaliza outra direção, "destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela".
O impacto positivo da decisão refletiu imediatamente na queda dos juros futuros e na alta da Bolsa, mas as declarações de Lula contra a decisão voltaram a gerar turbulências no mercado, o que favoreceu a alta do dólar. Por mais que o presidente da República minimize esse efeito, o fato é que a moeda brasileira é a quarta a mais se desvalorizar no ano.
A grande preocupação do Copom é com o mercado externo, muito instalável em razão das guerras em Ucrânia e Gaza, da aproximação das eleições nos EUA e do impacto dos eventos climáticos extremos nas economias. O que pode ser controlado são as variáveis internas da economia sob responsabilidade do governo, entre as quais as contas públicas.
Se o governo não adotar uma política de controle de gastos, a demanda de produtos e serviços pressionará a inflação, além de expandir a dívida pública. Vem daí a causa da elevação dos juros futuros e do dólar, pois os investidores ficam inseguros e passam a operar com mais cautela.
Lula não pode ser um fator de instabilidade da economia, como a sua retórica atual sinaliza. Ele cria um nevoeiro no horizonte econômico ao afirmar que pretende indicar, para o lugar de Campos Neto, um substituto "maduro", impermeável às influências do mercado financeiro e que leve em conta o crescimento da economia, além da inflação. Por isso mesmo, a unanimidade do Copom é muito importante. Sinaliza que os quatro diretores já indicados pelo atual governo vão adotar critérios técnicos e manter autonomia do BC.
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