Seriam surpreendentes, se não fossem tão comuns, as manifestações públicas de racismo, machismo e misoginia nos poderes da República. Na última semana, novos e grotescos episódios estamparam o tamanho do preconceito enraizado no Legislativo e no Judiciário, casas que deveriam ter apenas representantes exemplares no cumprimento das leis, em especial da Constituição, que condena qualquer tipo de discriminação.
É estarrecedora a fala misógina do desembargador Luis Cesar de Paula Espíndola, do Tribunal de Justiça do Paraná, durante um julgamento que avaliava se medidas protetivas a uma menina de 12 anos, vítima de assédio por parte de um professor, deveriam ser mantidas. Afirmou que as mulheres estavam loucas atrás de homens, que hoje são elas que assediam os homens, entre outras palavras, num discurso feito com tanta naturalidade que chega a impressionar.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) se manifestou criticamente, e a Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) vai investigar a conduta do desembargador, que foi alvo de seis apurações. Uma delas, ainda em curso, por ter sido condenado, no ano passado, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por agressão à própria mãe e à irmã, conforme publicamos na coluna Eixo Capital, assinada por Ana Maria Campos.
A pena de quatro meses e 20 dias de detenção, a que foi sentenciado, nunca foi cumprida, já que a Corte Especial decidiu suspender a pena aplicada, pelo prazo de dois anos, e determinar o retorno imediato de Espíndola ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
Ou seja, o senhor magistrado é um reincidente. E a punição não chega — taí o motivo de não evoluirmos como país capaz de respeitar e proteger as mulheres.
Outra fala preconceituosa foi da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que chamou duas vezes a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) de Chica da Silva, uma escrava alforriada, numa clara demonstração de racismo. Vai ficar por isso mesmo? Ela pode falar e fazer o que quiser e nada acontece no âmbito do Legislativo?
As leis e códigos de ética existem, mas parece que não valem para quem tem o poder investido pelo voto ou pela toga. Enquanto a nossa sociedade não souber julgar e condenar os poderosos por falas racistas, misóginas, sexistas e homofóbicas, tão comuns nesses meios, o Brasil continuará sendo um grande pequeno país, incapaz de desenvolver algo tão básico como o sentimento de humanidade.
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