Em todo o país, circulam mais de 27,2 milhões de motocicletas, conforme dados atualizados, no último dia 2, pelo Ministério dos Transportes. A maior frota é de São Paulo, com 5,6 milhões. No Distrito Federal, são 258.698 motos. Em Minas Gerais, 3 milhões. Boa parte desses veículos é usada por entregadores de encomendas, com contratos de trabalho precários e sem cobertura em caso de acidentes, que, muitas vezes, causam graves danos físicos e até invalidez aos condutores.
Nas edições de domingo e desta segunda-feira, o Correio Braziliense detalhou os números de tragédias que afetam a vida dos motoboys, mão-de- obra do sistema delivery, e dos mototaxistas. O custo dos acidentes e mortes é pago pelos contribuintes, via Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2023, cada internação custou ao SUS, em média, R$ 1.561,31, totalizando R$ 22,15 milhões. Nos primeiros quatro meses deste ano, foram gastos R$ 80,5 milhões, segundo o Ministério da Saúde. Nesse mesmo período, houve um aumento de 14% nas internações de motociclistas, em comparação a janeiro a abril de 2023.
Não há dados atualizados sobre o impacto financeiro desses acidentes na Previdência Social e na produtividade do país e do número de mortos. A informação mais recente sobre o impacto financeiro é de 2020, por meio de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O levantamento concluiu que o Brasil perde pelo menos R$ 50 bilhões, por ano, com as colisões no trânsito. Naquele ano, o Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (DPVAT) constatou que 79% dos pedidos de indenização foram de motociclistas envolvidos em incidentes nas estradas brasileiras. Quanto às mortes, os números do SUS referentes a 2022 indicam 12.058 óbitos no Brasil — o equivalente a 33 vítimas por dia.
Vários fatores frustram campanhas de educação aos condutores de veículos, como a lançada, em 1996, pelo Correio Braziliense — Paz no trânsito —, motivada pelo aumento de acidentes nas vias da capital da República. Com o passar dos anos, há uma tendência de a sociedade ignorar os marcos regulatórios, o que exige regularidade nas ações educativas. Por mais que as blitze sejam importantes, igualmente é necessário orientar.
Ao mesmo tempo, cabe ao Estado, diante de calamidade, como a que vitima condutores de motocicletas, criar meios de preservar a vida desses operários do delivery, que, geralmente, têm renda mensal bastante limitada. Um bom exemplo é a faixa azul, destinada ao tráfego de motocicletas, como a existente na capital de São Paulo. Ou seja, uma faixa exclusiva, assim como a destinada aos ciclistas, evitando a disputa na mesma faixa entre veículos de quatro rodas e as motocicletas. Preservar a vida de todos, independentemente da condição socioeconômica ou da atividade laboral é dever do Estado.
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