Fernando Rizzo — Diretor-presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e responsável pela organização da 5ª CNCTI
Há bons ventos soprando para a ciência no Brasil. Nos últimos anos, apesar dos desafios orçamentários, a produção científica ganhou protagonismo. Nos momentos mais difíceis, centenas de pesquisadores resistiram a deixar seus sonhos para trás e lutaram por seus laboratórios. A resistência deu frutos. Um relatório de 2023 da agência Bori, em parceria com a Elsevier, mostrou que o impacto da produção científica brasileira, de 1996 a 2022, cresceu 21%. Isso significa que ganhamos relevância: trata-se de um indicador internacional sobre quantas vezes um artigo científico brasileiro foi citado no lugar de outro da mesma área de conhecimento.
O impulso às pesquisas também deve muito ao reconhecimento da importância da atividade pelo brasileiro comum. Em tempos de fake news, vale destacar que, contra tudo e todos, a população acredita mais do que nunca no poder transformador da ciência. Quem duvida precisa conhecer os dados da pesquisa Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil 2023, encomendada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e conduzida pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE): 60% dos brasileiros têm interesse por ciência e 75% acreditam que os governantes devem seguir a orientação dos cientistas para resolver os problemas nacionais.
É nesse clima de confiança que acontece a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), entre 30 de julho e 1º de agosto, em Brasília. Maior evento nacional do setor, tem um papel fundamental na orientação do futuro que almejamos alcançar. No longínquo 1985, a 1ª CNCT, sob o tema Rumos do novo ministério, desenhou as políticas do então recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje MCTI. Em 2024, o foco é compatibilizar crescimento e qualidade de vida: Ciência, tecnologia e inovação para um Brasil justo, sustentável e desenvolvido.
O último lote de ingressos para ocupar as 1.800 vagas que darão acesso a grandes debates de interesse nacional se esgotou em 15 minutos. As inscrições para participação on-line também têm tido forte procura. Os brasileiros querem discutir extremos climáticos, fontes renováveis de energia, neoindustrialização, inteligência artificial, entre outros importantes temas que serão tratados no encontro.
Para entregar uma pauta alinhada com os interesses públicos e capaz de mobilizar a nação, a conferência abriu amplo espaço para reuniões preparatórias, que, nos últimos meses, envolveram mais de 70 mil participantes em mais de 200 encontros por todo o Brasil. Foram 14 conferências municipais, 26 estaduais e no Distrito Federal, 29 encontros temáticos, 157 conferências livres e cinco regionais (Sudeste, Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste). A ampla mobilização reuniu academia, setor público e privado, sociedade civil e movimentos sociais para discutir e sugerir diretrizes para uma nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), que guiará o setor na próxima década.
Essa força motriz, que se repete ano a ano, elevou o Brasil no Índice Global de Inovação. No ano passado, subimos cinco posições no ranking e, agora, ocupamos o 49º lugar entre 132 países, na primeira posição na América Latina. Não só queremos, como podemos mais, se considerarmos que essas conquistas aconteceram enquanto nós e o mundo enfrentávamos a dura realidade de uma pandemia de covid-19.
Em um cenário em que a ciência assume um papel vital, teremos, na próxima conferência nacional, o espaço ideal para debater grandes desafios atuais do país em quatro eixos temáticos: recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas; programas e projetos estratégicos nacionais; e ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social.
Além disso, temos o grande compromisso de ir além e propor uma ciência democrática que não se restrinja ao ambiente acadêmico, mas abrace todo o país, a ancestralidade dos povos indígenas, as tradições das comunidades quilombolas e as experiências cotidianas das periferias. Faz parte da essência da atividade científica contribuir para um desenvolvimento justo e sustentável.
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