Saúde

Todo o dia é dia de combater a leishmaniose no Brasil

Estima-se que a leishmaniose afeta, em média, 2 mil pessoas anualmente no Brasil e que, para cada ser humano doente, são estimados 200 cães infectados. Forma mais grave da doença tem alta taxa de mortalidade

26/02/2013. Crédito: Carlos Moura/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Entrada do condomínio, com cartaz de alerta de leishimaniose, no Condomímio Privê Morada Sul, no Lago Sul. -  (crédito: Carlos Moura/CB/D.A Press)
26/02/2013. Crédito: Carlos Moura/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Entrada do condomínio, com cartaz de alerta de leishimaniose, no Condomímio Privê Morada Sul, no Lago Sul. - (crédito: Carlos Moura/CB/D.A Press)

PAULO TABANEZ — Médico veterinário infectologista e membro fundado do Brasileish

A leishmaniose visceral é uma doença zoonótica — ou seja, pode ser transmitida entre animais e seres humanos. É uma das doenças infecciosas mais importantes no mundo, com relevante impacto na saúde pública. Diante da sua importância, foi criada a Lei nº 12.604, em 2012, instituindo a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose, a ser celebrada anualmente na semana que incluir o dia 10 de agosto. Assim, agosto foi considerado o mês dedicado à discussão dessa doença, sendo batizado de Agosto Verde.

A leishmaniose é causada pelo protozoário Leishmania infantum, transmitido durante o repasto sanguíneo pelo vetor, o mosquito palha (Lutzomyia longipalpis). Vários mamíferos podem ser infectados — contudo, o cão é o principal reservatório urbano da infecção. Estima-se que de 50 mil a 90 mil novos casos de leishmaniose visceral ocorrem anualmente em todo o mundo, sendo que a maioria acontece no Brasil e em países da África Oriental.

 Na América Latina, cerca de 97% dos casos de leishmaniose em humanos e 90% dos casos em cães ocorrem no Brasil. Estima-se que a doença afeta, em média, 2 mil pessoas anualmente no país e que, para cada ser humano doente, são estimados 200 cães infectados — ou seja, 400 mil casos caninos por ano. A leishmaniose visceral é a forma mais grave da doença, com altas taxas de mortalidade em humanos e em cães se não forem tratados.

A maioria dos cães infectados pode permanecer assintomático por meses a anos. Entretanto, cerca de 30% dos animais apresentam sinais clínicos variados e inespecíficos, como apatia, prostração, febre, emagrecimento, aumento das unhas, aumento dos linfonodos e baço, alterações na pele, nos olhos, dificuldade de locomoção, sinais gastroentéricos, anemia, sinais de sangramento e envolvimento renal. 

O diagnóstico nem sempre é fácil e rápido e, dependendo dos exames realizados, principalmente sorológicos, eles podem apresentar falso positivo. Logo, o resultado do exame é positivo, mas o animal não está infectado. 

O impacto desse diagnóstico equivocado foi a morte e a eliminação de incontáveis cães no Brasil, nas últimas décadas. O país ainda utiliza a eutanásia de cães sororreagentes como forma de controle da doença, apesar de não haver estudos contundentes e decisivos sobre o papel da eliminação canina na diminuição ou no aumento de casos em humanos. O controle do vetor e o tratamento dos seres humanos infectados também são estratégias adotadas. Contudo, na última década, mudanças na concepção dessa abordagem foram realizadas, como a autorização da primeira droga  leishmanicida para o tratamento de cães infectados, bem como a adoção de programas de coleiras repelentes e inseticidas, para evitar o contato do vetor com o animal. 

Entretanto, a vacina contra leishmaniose, uma das estratégias adjuvantes para o cão, foi removida do mercado, temporariamente, desde o ano passado. É sabido que essa vacina não previne a infecção — ou seja, a picada pelo vetor. O seu papel estava voltado para reduzir a doença e a infectividade dos animais infectados. Logo, jamais poderia substituir o uso de repelentes e inseticidas, mas, sim, apenas auxiliar como adjuvante nessa proteção. 

No Agosto Verde, dedicamos um espaço especial para a conscientização e combate à leishmaniose, mas não podemos nos esquecer que, infelizmente, todo dia é dia de leishmaniose no Brasil. A posse responsável, a educação em saúde, o uso de repelentes e inseticidas, o manejo ambiental, a limpeza do ambiente, o diagnóstico e o tratamento precoces e o conhecimento sobre a doença são estratégias que certamente mudarão a evolução dessa doença no Brasil e no mundo.

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postado em 03/08/2024 06:00
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