Opinião

O jornalismo é meu refúgio

Desde o primeiro chão que pisei como jornalista, sabia que era onde fincaria raízes. Como se o jornalismo fosse um lugar. Nem sempre de conforto, mas meu

Jornalista fazendo anotações -  (crédito: Freepik/Reprodução)
Jornalista fazendo anotações - (crédito: Freepik/Reprodução)

Ter olhos e ouvidos ligados em notícia é como vibrar no lado escuro do universo, pois o fato é que precisamos jogar luz na maldade humana, na catástrofe, na sacanagem, no crime e por aí vai. Faz parte, apesar de não ser apenas isso e de termos muitas histórias boas para contar. Ser jornalista, especialmente numa redação, é flertar com o imponderável, o inimaginável, o extraordinário. É mudar planos e rotas. Mais do que isso, é mudar conceitos, largar preconceitos e se abrir para o que a vida e a realidade jogam na nossa cara. 

Desde o primeiro chão que pisei como jornalista, sabia que era onde fincaria raízes. Como se o jornalismo fosse um lugar. Nem sempre de conforto, mas meu. De fato, é onde eu sempre me senti à vontade. Tipo quarto e cama quente, enquanto muitos colegas de profissão abraçavam esse lar apenas como a sala de estar, sem muita intimidade — o que eu compreendo perfeitamente.

Essa relação tão íntima me custou um bocado de coisas, é bom que se diga e que me lembre. Ter laços estreitos com o dia a dia do jornalismo me ensinou muito e me fez uma pessoa ciente, consciente do mundo, permanentemente em estado de alerta. O jornalismo me formou como pessoa, não apenas como profissional. 

Acredito fortemente que não fez e não faz isso só por mim. O jornalismo salva e é preciso que se salve dessa onda de desinformação e de fake news, tão flagrantemente arquitetada. Pelo bem de todos e da democracia. Sigo acompanhando os movimentos das big techs e da ultradireita e sei que estamos entrincheirados. Mas sei também que o que não mata engorda. E não morreremos, porque o jornalismo sempre dá seu jeito de existir. 

Refleti muito sobre isso quando me encontrei com a fé novamente nesta semana. A convite da Comunidade Obra de Maria, que está festejando seus 35 anos com uma grande celebração religiosa, vim a Pernambuco, minha terra, para conhecer mais a fundo o trabalho deles e para conversar com Deus, em comunhão com fiéis e missionários de muitos países.

Descobri nas minhas peregrinações e durante meus momentos de prece, por meio de muitos credos, que o jornalismo é também meu refúgio, porque ele me faz crescer, mesmo nas adversidades e nos momentos difíceis. Um ninho nem sempre precisa ser tão confortável — precisa também nos entregar missões e desafios; não apenas te poupar das chatices, inquietações e dificuldades da vida. E seu refúgio também oferece oportunidades de crescer? 

Ana Dubeux
postado em 19/01/2025 06:01 / atualizado em 19/01/2025 09:20
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