
Trump prometeu retomar o Canal do Panamá, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e impor uma guerra tarifária a outros países. Para o êxtase de seus asseclas bilionários, como Elon Musk, Jeff Bezos e Zuckerberg, o homem mais poderoso do mundo avisou que começou, na segunda-feira, uma "era de ouro" para os Estados Unidos e anunciou a retirada do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Também ordenou ao governo que considere a existência unicamente dos gêneros masculino e feminino. Uma aberração completa capaz de jogar as pessoas transgênero dos Estados Unidos no limbo, sem acesso a documentos básicos, como passaporte, e a cuidades de saúde.
Mas é a libertação dos vândalos invasores do Capitólio que parece representar golpe de morte na democracia. É a completa normalização do absurdo e do descalabro, pois equivale a considerar como algo aceitável que uma horda de fanáticos ataquem um prédio público, na tentativa de impedir que os congressistas certifiquem a vitória do candidato opositor — no caso, Joe Biden. Ao assinar o decreto e soltar imediatamente os condenados pelo 6 de janeiro de 2021, Trump parece jogar para a sua claque, sob o argumento de que a liberdade de expressão não pode ser tolhida ou obstaculizada. Ao mesmo tempo, despreza a Justiça de seu próprio país, ao ignorar os graves crimes cometidos por seus simpatizantes, os quais ele chamou de "reféns".
Trump abre um precedente perigoso. Escancara as portas para que manifestantes, no futuro, contestem os resultados das urnas com violência e barbárie. Os Estados Unidos, que se consideram uma espécie de farol da democracia, acabam de colocar em xeque o direito de escolha de uma maioria. A invasão ao Capitólio vai além de uma massa de fanáticos irrompendo a sede do Legislativo. É uma agressão aberta e gratuita ao Estado de Direito. Pela Constituição, Trump não pode ter um terceiro mandato. Imagino o que ocorrerá em 20 de janeiro de 2028, quando for o momento de ele deixar a Casa Branca.