
O Brasil está em campanha de combate e prevenção contra a dengue, após a epidemia devastadora de 2024. No ano passado, mais de 6 milhões de prováveis casos e 6 mil mortes foram registrados pelas autoridades sanitárias, na maior manifestação da doença já ocorrida no país. Pelos números coletados até esta semana, a arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti acometeu aproximadamente 170 mil pessoas em 2025. A maioria dos casos se concentra na Região Sudeste, particularmente em São Paulo.
Como mostrou o seminário promovido pelo Correio na última quinta-feira, a dengue está em patamares bem menos assustadores do que em relação ao ano anterior. Mas é preciso ter atenção. Melhor coordenação entre o Ministério da Saúde e os estados, o desenvolvimento de uma vacina e, de modo mais imediato, ações para impedir o avanço do mosquito transmissor se fazem fundamentais em 2025.
O atual momento pode ser alentador quando se olha para o passado, mas está longe de representar tranquilidade. A hora é de vigilância e prontidão. Historicamente, a curva de casos é crescente até meados de abril. Estamos, portanto, em um período crítico, no qual é preciso reforçar ações preventivas, como evitar o acúmulo de sujeira e água parada. É fundamental colocar em prática os "Dez minutos contra a dengue", campanha nacional lançada no ano passado a fim de estimular a população a tomar medidas, uma vez por semana, contra a proliferação do Aedes aegypti. Diga-se, mais uma vez: a população tem um papel central para impedir que a dengue chegue a níveis tão graves, como ocorreu em 2024.
Do ponto de vista governamental, a eficiência do combate à dengue está diretamente ligada a uma melhor coordenação entre o Ministério da Saúde e as unidades da Federação. É precisamente esse esforço que vem sendo adotado pelo governo federal, como salientou o secretário-executivo da pasta, Swedenberger Barbosa. "Os dados atuais ainda não são suficientemente baixos para nos deixar tranquilos. Por isso, seguimos trabalhando em conjunto com as secretarias estaduais e municipais para alinhar novas estratégias", ressaltou.
No início de janeiro, o governo federal instalou, em Brasília, o Centro de Operações de Emergências no controle da dengue. Integram a unidade representantes da Organização Panamericana de Saúde (Opas); da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass); e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Trata-se de um esforço para lançar respostas integradas no enfrentamento da doença que assola o Brasil há pelo menos 40 anos.
No complexo e abrangente combate à dengue, os investimentos em novas tecnologias e no desenvolvimento da vacina são uma via promissora. Cientistas têm apresentado soluções para neutralizar as infecções, como a inoculação de bactéria no Aedes aegypti, a fim de impedir a infestação do espaço urbano. Uma vacinação em massa, resultado de pesquisas do Instituto Butantan, só deve ocorrer em 2026. E aí vem um novo desafio: convencer a população a se imunizar. Os atuais números indicam uma baixíssima adesão do público adolescente, que poderia ser protegido pelas duas doses da vacina Qdenga, ofertada pelo Sistema Único de Saúde.
Como se vê, o Brasil tem condições de estabelecer uma política sólida na batalha contra a dengue. É preciso que governo e sociedade cumpram seu respectivo papel na empreitada. O benefício será a todos.