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Misóginos não passarão!

Leis mais severas são importantes, mas também mostram-se cruciais uma mudança de comportamento na área da segurança e um programa de conscientização dos cidadãos do sexo masculino

Violência doméstica -  (crédito:  Lucas Pacifico/CB)
Violência doméstica - (crédito: Lucas Pacifico/CB)

Maria José Ferreira dos Santos, 31 anos, esfaqueada por três vezes pelo marido, no Recanto das Emas. A filha, de apenas 11 anos, testemunhou a atrocidade. Dayane Barbosa Carvalho, 34, executada pelo companheiro, que se matou em seguida, na Fercal. Ela deixou dois filhos, de 8 e 12 anos. Ana Moura Virtuoso, 27, golpeada a faca pelo marido, também na frente dos filhos, na Estrutural. Géssica Moreira de Sousa, 17, grávida, assassinada com um tiro na cabeça pelo ex-companheiro, dentro de uma igreja de Planaltina. Ana Rosa Rodolfo, 49, motorista de aplicativo estrangulada, no Cruzeiro Velho.

Sonhos violentamente interrompidos, filhos lançados na orfandade, famílias destroçadas, luto, dor, saudade. A misoginia e a ideia estapafúrdia e absurda de posse sobre a mulher estão por trás da epidemia de feminicídio que assola o Distrito Federal e o Brasil. Em menos de quatro meses, foram seis casos no DF — além das vítimas mencionadas acima, existe uma sexta, que não foi identificada.

Sem contar outros episódios de barbárie, em que mulheres são mutiladas por trogloditas que se acham no direito de impor uma vida de terror a quem dizem "amar". Como no caso de uma moradora do Núcleo Bandeirante, recém-operada para a colocação de silicone, que, além de espancada, teve a prótese mamária arrancada a faca pelo marido. Aquelas que sobrevivem a feminicidas em potencial são condenadas a uma vida de terror e aos traumas físicos e psicológicos.

Em 9 de outubro de 2024, passou a vigorar a Lei 14.994, que aumenta a pena dos feminicidas para até 40 anos de reclusão. Em várias ocorrências, a vítima entra com medida protetiva, denuncia o algoz e o Poder Público se omite, não cumpre com a função que se espera: acolhimento e proteção. Quantas não foram assassinadas depois de implorarem por ajuda, mais de uma vez, na delegacia? Quantas não foram ridicularizadas ou tratadas com desdém por policiais homens? Quando o Estado não age rapidamente para impedir uma tragédia, torna-se conivente, cúmplice. Acolher, escutar, registrar a denúncia, investigar, prender o agressor nada mais são do que obrigações do Poder Público.

Leis mais severas são importantes, mas também mostram-se cruciais uma mudança de comportamento na área da segurança e um programa de conscientização dos cidadãos do sexo masculino. O homem precisa perceber que não é, nunca foi, nem nunca será o dono do corpo da mulher. E que a objetificação da mulher é atitude típica dos imbecis, dos "homens" desprovidos de dignidade e imbuídos de desprezo pela vida. "Se não é minha, não vai ser ninguém" — esta é a máxima dos covardes, a justificativa dos marginais para matar. Misóginos não passarão!

postado em 02/04/2025 06:00
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