Opinião

Direita no governo de esquerda (e vice-versa)

No aquecimento para as próximas eleições, a direita e a esquerda se movimentam e a impressão é que se trata de uma missão para apagar o outro lado

As eleições de 2026 se aproximam, e independente de quem ganhar, a oposição não vai desaparecer

 -  (crédito: Flora Egécia/Divulgação)
As eleições de 2026 se aproximam, e independente de quem ganhar, a oposição não vai desaparecer - (crédito: Flora Egécia/Divulgação)

Esses rótulos de designações políticas são difíceis de engolir. Lembro desde a tenra idade revirar os olhos para as tradicionais designações de "esquerda" e "direita". A priori, ainda nas aulas da 5ª série, imaginava que as pessoas estavam sendo dissimuladas ao ponto de não entenderem que toda esquerda tinha um pouco de direita — e vice-versa. Com o passar do tempo, contudo, ficou claro que o desentendimento era real. O extremismo era a explicação. Os dois lados não deveriam se misturar, não se aceitar, como água e óleo. O problema, contudo, é entender que, nessa lógica, quando um dos dois espectros ganha, quem vai governar para o outro lado? 

Quando o presidente Lula, um expoente da esquerda, ganhou as eleições de 2022, certamente os apoiadores não esperavam que todas as pessoas de direita desaparecessem do país. Assim como quando Bolsonaro, representante da direita, virou líder do Executivo em 2018, os apoiadores não esperavam que toda a oposição de esquerda fosse para outro planeta. Ou esperavam? 

De certa forma, quando um lado dessa polarizada régua política chega ao poder, a impressão é de que o outro lado tem de sumir. Entretanto, é óbvio que isso não pode ocorrer. Quando se fala da vontade das pessoas de direita ou esquerda, ainda vale uma grande concessão — afinal, a vontade das pessoas, em diversas maneiras não importa muito. No fim das contas, somos só mais alguns cidadãos em um mar de quase 213 milhões de brasileiros. 

O mais preocupante, e o que de fato importa, é pensar na vontade das lideranças políticas. Refletir se um candidato da esquerda ou da direita, no fundo, espera que os opositores simplesmente desapareçam depois de ascender ao poder.

Cada lado dessa moeda política defende os setores que julga mais importantes. Importante lembrar, contudo, que uma sociedade não é feita por um ou outro setor, mas, sim, por um conjunto deles, vivendo ao mesmo tempo.

O ano de 2026 se aproxima a galope. Lá, o Brasil passará por mais uma eleição presidencial. Será a 32ª eleição para a escolha de um presidente desde 1891. Ao longo desses 134 anos, os pleitos no Brasil passaram por inúmeras mudanças. Dessas, apenas 12 podem ser consideradas plenamente democráticas — por serem diretas, secretas e com sufrágio universal. 

Os espectros políticos sobreviveram a todo esse tempo. Talvez não como conhecemos a esquerda e direita hoje, mas sempre com oposições. Por mais que tentassem, calar a oposição, ou simplesmente as ideias contrárias, nunca foi um plano efetivo na história brasileira. 

No aquecimento para as próximas eleições, a direita e a esquerda se movimentam. Os jornalistas estão lá para reportar todas essas circulações — e denunciar qualquer ilegalidade. Surpreende, contudo, o quanto os lados estão cada vez mais opostos, e mais incomunicáveis. 

A sensação que dá é que realmente se trata de uma missão para apagar o outro lado. Não é algo inédito, vale lembrar, mas parece cada vez mais intenso.

postado em 07/04/2025 06:00 / atualizado em 07/04/2025 06:00
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