Opinião

Brasília como lugar central na organização urbana do país

A Brasília de hoje irradia desenvolvimento e as relações macrorregionais de todo o país. Faltam alguns movimentos em direção ao Norte do Brasil e ao ocidente do Nordeste

PRI-0505-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-0505-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)

»  ALDO PAVIANI, Geógrafo, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)

O mundo urbano mudou desde 1933, quando August Lösch e Walter Christaller formularam a Teoria do Lugar Central (TLC). Já se passaram mais de 90 anos e, contemporaneamente, não se pode encontrar lugares em que exista uma cidade com comando de apenas seis outras em uma região, como quer a TLC. Sempre há um grande centro que comanda 10, 20 ou mais cidades. Exemplos disso são cidades brasileiras como Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre e muitas outras com cidades satélites dependentes do grande centro para a obtenção de bens, serviços e resolução de problemas ligados à governança ou com alta preferência para compras em indústrias ou em comércios de maior porte. Todavia, não há por aqui território com redes urbanas num sistema hexagonal, com uma cidade central e as dependentes ao seu redor uniformemente distribuídas no estilo centro-periferia, formando estruturas hexagonais, como explicita o sistema proposto Christaller e Lösch.

Logicamente, pela colonização europeia das Américas, há mais cidades importantes ao longo do litoral do que no hinterland (interior), mas se pode dar exemplos de cidades, particularmente capitais, importantes no interior fugindo do modelo litorâneo, fundado pelo colonizador. As capitais interioranas importantes do Brasil comandam regiões por vezes com territórios expressivos, como é o caso de São Paulo, cuja área de influência se estende por todo o país. As redes urbanas formadas por esses centros não apresentam nenhuma característica hexagonal, como na TLC, com a distribuição de cidades subalternas, tal como explicitado nessa teoria. 

Em que pesem o imaginado nas teorias e sua aplicação à realidade urbana, devemos avaliar a cidade que se formou a partir de um núcleo de sustentação. Por exemplo: em Brasília, o Núcleo Bandeirante, que denominei de "verdadeiro empório", tendo mão de obra e comércio local que deram impulso às obras da Esplanada dos Ministérios. Além disso, foi cidade acolhedora, essencial para que o "sonho de Dom Bosco" se tornasse a Brasília, cidade hoje com 65 anos e ampla estruturação e organização espaciais. Brasília é viva e pujante, verdadeiro polo de desenvolvimento, como queria o ex-presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira (JK).

Igualmente, Brasília facilitou a implantação da cidade de núcleos múltiplos (como denominei há quase 20 anos). A capital consolidou-se como cidade em formato estelar, disseminada no território, agregando ao seu redor núcleos urbanos de abrigo para trabalhadores, como Taguatinga, em 1958 e, depois, Gama, em 1960, e outras adiante. Compuseram-se, assim, os demais núcleos urbanos. Houve também a expansão de Brazlândia e de Planaltina, cidades preexistentes à estruturação do Distrito Federal (DF).

Com isso, a Brasília de hoje irradia desenvolvimento e as relações macrorregionais de todo o país. No entender deste geógrafo, faltam alguns movimentos em direção ao Norte do Brasil e ao "Meio Norte", ou ao ocidente do Nordeste. Essa sub-região espera planos e projetos para melhorar a ligação com o centro do poder decisório, Brasília, e com o Sul agroindustrial. É de se esperar que a trama urbana envolvente acabe por assimilar essa parte menos desenvolvida do Brasil. Para isso, deve-se avaliar os potenciais dessa região para incluí-los naquilo que passou a se denominar "Brasil desenvolvido". Hoje, o Sudeste se destaca no crescimento, com a história econômica desenvolvimentista, tanto no que tange aos investimentos do governo local e nacional, quanto na recepção e implementação de indústrias e empresas privadas. 

Considera-se Brasília, implantada e efetivada como capital do país, um centro em expansão populacional e econômica de maior expressão, percentualmente, que o Centro-Oeste e o sul do Norte do país. A JK e a todos os trabalhadores se devem os esforços para cumprir as metas estabelecidas pelo ex-presidente. Se planejada ou não, a cidade é mundialmente reconhecida como a capital do "terceiro milênio". Brasília sempre será importante no sentido de que se realizem estudos sobre a organização das redes urbanas e as geometrias espaciais da região da capital que vão possibilitar a organização e o planejamento da área de influência da cidade. 

 

Por Opinião
postado em 05/05/2025 03:39
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