Visto, Lido e Ouvido

O ônus e o bônus

Centenas de trabalhadores se reuniram na capital paulista em apoio a proposta que reduz a jornada máxima de 44 para 36 horas semanais -  (crédito: Letycia Bond/Agência Brasil)
Centenas de trabalhadores se reuniram na capital paulista em apoio a proposta que reduz a jornada máxima de 44 para 36 horas semanais - (crédito: Letycia Bond/Agência Brasil)

Neste 1º de Maio, o que mais se ouviu por parte das lideranças sindicais nos principais eventos de comemoração da data, foram referências ao fim da escala 6x1. Ao que parece as centrais sindicais estão abraçando a proposta de redução da carga horária semanal de 44 para 36 horas. Essa proposta vem ganhando maior aderência dos sindicatos, pois eles se convenceram da impossibilidade de ganhos salariais reais em decorrência da crise econômica que o país atravessa. O próprio governo não faz alarde público dessa proposta, mas, nos bastidores, apoia a medida, pois é a única que pode oferecer aos trabalhadores neste momento.

Nos mesmos moldes da recomendação feita recentemente pelo presidente ao dizer: "se está caro, então não compre", é oferecida a proposta: "se não há possibilidade de aumentar os ganhos salariais da classe trabalhadora, então trabalhe menos". Caso a PEC sobre o assunto apresentada venha a ser aprovada poderá provocar, num primeiro momento, a perda de mais de 18 milhões de empregos, comprometendo até 16% do PIB do país. Mas parece que isso não é levado a uma discussão aprofundada pelos proponentes dessa medida.

Aproveitando a ocasião pelas comemorações do Dia Internacional do Trabalho, o presidente Lula defendeu, na última quarta-feira  a revisão da jornada de trabalho, afirmando que era chegada a hora de colocar a proposta em discussão: "Vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso". Ainda segundo o presidente, "é chegado o momento de o país dar esse passo".

Do outro lado, pensam os economistas que enxergam essa proposta apenas oportuna pelo tempo eleitoral. Parlamentares da base também entraram nessa discussão e prometem avançar com essa pauta, mesmo na contramão da realidade econômica e financeira do país. Se for contar apenas com a bancada de apoio que possui dentro do Congresso, a discussão desse assunto ainda vai longe e sem data para a conclusão.

Como o Brasil é o que é, existem algumas lideranças da oposição que se mostram simpáticas à redução da jornada de trabalho. Afinal, as eleições de 2026 estão se aproximando e é preciso ter o que oferecer nas campanhas. A turma dos economistas que usa a cabeça para pensar saídas positivas para o país afirma que essas medidas, caso aprovadas, irão causar sérios impactos nos custos empresariais, especialmente para as pequenas empresas e com isso afetar negativamente a produtividade. A questão é saber se a redução de jornada de trabalho, ao aumentar os custos e comprometer a produtividade, afetando empresas que mais geram empregos, seria viável sem uma redução também nos salários?

Para os que acreditam que sim, a justificativa para essa disparidade é que existem hoje ganhos elevados no empresariado. Para aqueles que apostam nas novas tecnologias que trazem mudanças na forma e no modelo atual de trabalho, existe possibilidade de redução da jornada semanal. Olhando o Brasil do alto e sem as interferências políticas e partidárias, o que se observa é que, neste momento, não há espaço para a implementação dessa proposta. É o retorno do velho vaticínio proferido nos anos 1950 pelo antropólogo e etnólogo francês Lévi-Strauss (1908-2009), quando em visita a nosso país: "O Brasil vai sair da barbárie sem conhecer a civilização". A frase, detestada por muitos, mostra a importância do conhecimento, da educação e do preparo técnico para o trabalho na transformação social, econômica e política do Brasil. Não é pelas mãos de políticos que o Brasil vai ser conduzido ao pleno desenvolvimento, é pelas mãos dos professores. A redução da jornada vem antes da livre produção de riquezas, colocando e antecipando o bônus antes do ônus.

A frase que foi pronunciada:

"A jornada de trabalho está vinculada à segurança da atividade laboral."

Cirlene Zimmermann

História de Brasília

"Três mil pessoas estão na fila de telefones de Brasília. É um absurdo, ainda mais quando todo o mundo sabe que o DTUI dispõe de todo o material para atender a número muito maior."

 

postado em 04/05/2025 04:35
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