
Ao que parece, o destino do aiatolá Ali Khamenei está traçado. Tanto Israel quanto os Estados Unidos deram indicações de que não estariam interessados em um cessar-fogo. Se o desejo do governo de Benjamin Netanyahu fosse apenas o de destruir o programa nuclear iraniano, suas forças não teriam empreendido uma campanha de assassinatos seletivos de lideranças militares do regime, nem bombardeado a emissora estatal de Teerã. O objetivo é eliminar o regime teocrático islâmico, visto como uma ameaça à supremacia militar de Israel no Oriente Médio.
Tudo com a anuência de Donald Trump, que se revestiu de Pôncio Pilatos e “lavou as mãos” para a campanha militar israelense contra o Irã. Em uma de suas mais recentes declarações, o titular da Casa Branca disse não procurar um cessar-fogo, sinalizou a indisposição em negociar e admitiu que busca o fim do conflito. Na segunda-feira, Netanyahu declarou que a paz depende da eliminação de Khamenei.
A guerra iniciada unilateralmente por Israel tem consequências imprevisíveis. Apesar de os Estados Unidos supostamente não terem envolvimento direto com os ataques ao Irã, a anuência da Casa Branca e as declarações explosivas de Trump podem amplificar o antiamericanismo no mundo e colocar interesses dos EUA como alvos de grupos terroristas e milícias xiitas. Por atacar o Irã, Israel — envolvido na matança de inocentes em Gaza — corre o risco de alimentar o antissemitismo e fomentar o extremismo. A potencial derrubada de Ali Khamenei e de seus asseclas lançaria o Irã em um vácuo de poder, o que poderia transformar o país em um celeiro do terror. Basta lembrarmos o que aconteceu no Iraque após a queda, prisão e execução de Saddam Hussein.
Israel assinala que a guerra travada contra o regime dos aiatolás é existencial, porque o Irã estaria a ponto de produzir armas nucleares. Qual é a prerrogativa para que Israel mantenha seu arsenal nuclear e exija de países da região que se abstenham desse tipo de armamento? A garantia da soberania militar e da dissuasão atômica? Existia a perspectiva de um acordo nuclear e o desejo do Irã de negociar, ainda que as primeiras tratativas tenham fracassado. O ataque ao Irã sepulta qualquer possibilidade de acordo e, segundo especialistas, deve incitar o país a buscar o quanto antes a bomba atômica, por questão de sobrevivência.
Netanyahu pensa a campanha militar como uma possibilidade de se projetar como o líder que salvou o Oriente Médio da ameaça iraniana. De quebra, acredita que possa melhorar a imagem minada pelo massacre com características de genocídio em Gaza. No fim das contas, tudo é questão política. O tiro pode sair pela culatra, ante o risco de Israel estar preparando uma armadilha para si mesmo.