
Andrea Jácomo — pediatra
Para alegria da criançada e desespero de pais e mães, chegamos ao período de recesso escolar do meio do ano. É assim no mundo inteiro, em cada país, em cada cultura, no verão as férias são mais longas e no inverno são mais curtas, o que não muda é a preocupação de mães e pais sobre o que fazer para equilibrar a rotina de trabalho com as crianças em casa.
Apesar de algumas escolas nos tempos atuais terem um modelo bem diferente do de antigamente, oferecendo muito mais espaço para brincadeiras, algumas com aulas de gastronomia, esportes, robótica, teatro, circo e até meditação encaixadas entre conteúdos de matemática, português, ciências e geografia, os pequenos cumprem uma agenda que precisa acompanhar o ritmo de trabalho cada vez mais intenso das mamães e dos papais.
Os turnos de meio período vão ficando cada vez mais raros nas escolas, e observamos uma tendência de aumento dos regimes semi-integral e integral, com crianças cada vez menores ficando cada vez mais longos períodos fora de casa. Essa tem sido, inclusive, uma demanda dos pais que dependem da rede pública de ensino. A luta é para que as crianças das escolas e creches públicas também possam ter acesso às atividades educacionais, esportivas e lúdicas sem sair da escola, para que os pais possam melhorar a renda familiar e a qualidade de vida dos pequenos.
E onde compra mesmo o manual de sobrevivência de mãe e pai nas férias escolares? Ah, tem várias dicas fazendo sucesso nas redes sociais e vão desde a casa dos avós passando pelas tradicionais colônias de férias nos clubes das cidades e inovando com ateliês de atividades manuais e artísticas, tardes de spas, que não são para as mães e, sim, para as pré-adolescentes, acampamentos, viagens de aventura e até retiros de oração e meditação para os mais zen ou os mais agitados. Afinal, são eles mesmos que precisam ficar mais calmos.
Vejam que aqui não cabe julgamento e, confesso, inclusive, que recorri em algumas ocasiões a algumas das estratégias citadas quando meus filhos eram menores. Essa, entretanto, não é a realidade da maioria das famílias no nosso país. Enquanto os pais estão trabalhando, muitos avós também permanecem ativos, longe da aposentadoria; outros já não conseguem acompanhar o ritmo dos netos ou moram longe fisicamente, o que impede o fortalecimento da rede de apoio familiar, levando à necessidade de recorrer às opções pagas.
Não podemos esquecer os programas culturais, como cinema, teatro, museus e exposições, não são poucos os eventos voltados para o público infantojuvenil nesta época do ano, e a meninada, à medida que cresce, vai ficando mais exigente. Sim, encontramos alguns gratuitos, mas a grande maioria vai requerer planejamento estratégico do tempo e das finanças, já que o combo de férias geralmente inclui um lanchinho, e o problema é que nem sempre cabe no bolso das famílias.
À medida que as crianças vão crescendo, aprende-se a valorizar a importância desse período de pausa nas agendas. Elas cansam, sabiam? Precisam tanto do descanso quanto do tempo em casa com brincadeiras, sem o cronograma intenso de atividades, e precisam, principalmente, do contato com a família, com as raízes, para irem se nutrindo, florescendo nas diferentes competências que só as brincadeiras proporcionam e fortalecendo os laços familiares e de amizade. Sempre me impressiona o salto de crescimento e desenvolvimento que acontece nas férias.
No consultório, costumo brincar com os pais quando dizem que vão tirar férias com os pequenos: vai ser bom, vão cansar em um lugar diferente, porque descansar, mesmo nas férias, só depois que os filhos crescem. E, acreditem, crescem muito rápido. Se nos primeiros anos da infância o cansaço das férias é o físico da dependência conosco para se locomover e alimentar, depois já não precisam tanto de nós, mas estão sempre perguntando o que tem para comer e o que vamos fazer; já na adolescência o cansaço vai além: disputamos a atenção com os amigos e, principalmente, com as telas, viramos uma mistura de mãe-motorista-banco para conseguir acompanhar os programas, ou melhor, as resenhas.
Bom mesmo seria se pudéssemos aproveitar o ritmo de férias enquanto os nossos filhos ainda precisam e querem compartilhar esse tempo precioso conosco. Bom mesmo seria se entendêssemos que férias nem sempre é descanso, mas é a oportunidade de testemunhar as descobertas dos nossos filhos seja na sala da casa, na varanda do apartamento, no quintal da casa dos avós, nas viagens ou até nas colônias de férias.