
No jornalismo, a notícia ruim é que é a boa? Matéria-prima do jornalismo, o fato é o fato. Bom ou ruim. Assim é. Mas por que tragédias, crimes e escândalos ganham mais manchetes, repercussão, engajamento, poder de replicação? Por que as pessoas querem deixar de ver as notícias ditas ruins? Ou será que estão deixando de ver qualquer notícia? O que é, afinal, uma notícia ruim? O fato pode ser bom para uns e ruim para outros, certo? Este parágrafo contém muitas perguntas para poucas respostas.
Mas as respostas existem, ao menos parte delas. Estava analisando uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters com pessoas que evitam notícias, algo cada vez mais frequente. No Brasil, 47% evitam notícias, mais do que a média mundial. Pessoas que não desejam se informar revelam, em sua maioria, que desejariam conteúdos mais positivos (55%). Também querem soluções, perspectivas, análises, explicações. Já os que consomem notícias e não as evitam (62%) aprovam as manchetes do dia, ou seja, o jornalismo mais factual, que tende de fato a focar mais em notícias interpretadas como negativas.
Ou seja, em geral, existe uma tendência de evitar notícias que venham do jornalismo profissional. Em parte porque elas são apropriadas por uma imensa gama de influenciadores, que embalam no formato desejado e de consumo rápido. Sabemos que há uma imensa fragmentação das notícias em plataformas, também uma enorme oferta. Além de tudo, uma ansiedade crescente por dar conta de tanto conteúdo.
Adoecidas pelo excesso, pela correria, pelo medo de não estar em todas as trends e o pânico de achar que está por fora de algo muito relevante, as pessoas tendem a achar que se afastar das notícias é uma forma sedutora de estar bem. Passam por elas como quem escolhe um produto aleatório na prateleira. De forma quase displicente. É para ser indolor, superficial, de preferência com uma piadinha acoplada pra doer menos.
A verdade é que as pessoas só estão mais desinformadas e mais propensas a acreditar em fake news. Obviamente o jornalista precisa indagar a seu próprio umbigo por que, afinal, conseguiu ganhar tanta distância da audiência e como fazer para que essa barreira não seja intransponível. Uma notícia que viraliza corre o (bom) risco de virar meme, que no fim das contas talvez seja a melhor coisa da internet. Como vimos com a operação que colocou uma tornozeleira em Bolsonaro. Também como temos visto na questão do tarifaço do Trump.
O surto patriótico do brasileiro é até bem-vindo. O humor salva sempre. Mas, muitas vezes, o que salva mesmo é o jornalismo profissional, baseado em fatos e análises, leitura de contextos e seriedade. Existe uma ofensiva orquestrada e perigosa contra o Brasil em curso, e isso é importante não apenas para sedimentar terrenos para a extrema direita, mas para engordar os bolsos dos ricaços.
Tirar sarro de Bolsonaro e Trump lava a alma, diverte, rende like por toda parte. Mas, para além de tudo isso, é preciso encontrar a graça da notícia séria. Não no sentido do riso, mas da dádiva. Informação é uma preciosidade; conhecimento é luz. Entretenimento é uma delícia, mas se comprometa com a notícia profissional. É hora de estar alerta.