
Em geral, não sou de protelar nada. Nunca fui. Tem de fazer, logo providencio. Mas observo que uma determinada decisão estou adiando, não faz dias, já passou de um ano. Isso mesmo. Inconformada com a minha própria estagnação, fui atrás de especialistas. Conversei com psicólogos e psicanalistas — isso mesmo, vários, porque, claro, um só, no meu caso, seria insuficiente, porque sou dessas — psiquiatras e, para completar, fiz orações. Com o vício de buscar a explicação desejada, tentei inconscientemente manipular a todos, sem sucesso.
O interessante foi o resultado da "minha pesquisa". Sim, o hábito da profissão é tão forte que, geralmente, eu me distancio da questão, abordo o assunto, indago, pontuo, ouço e registro, como se o caso posto não fosse eu mesma. Com o tema, não foi diferente. Todas as fontes consultadas disseram que, ao adiar a tomada de decisão, mascara-se algo de que se quer fugir, então, deveria verificar de que se escapa.
Esperando a resposta mais assertiva, usando todas as técnicas de entrevistas aprendidas ao longo de quase quatro décadas de profissão, finalmente, obtive a tão sonhada palavra. Só não queria, nem estava preparada para ouvir: "medo". Ainda inconformada com a unanimidade, questionei o porquê desse sentimento. Mais uma vez, vieram as incríveis análises do que a alma humana esconde.
Medo do novo, do inesperado, do que virá, se essa é mesmo a melhor decisão a ser tomada, afinal quando "se passa dos 50, já não se pode errar, como antes", diz a sabedoria popular. É o receio do incerto, das reações dos outros e da própria. Até que o mais vivido entre as fontes foi categórico: "Não tenha medo. A hora é chegada, a hora é agora. Você sabe o que tem de fazer e como fazer. Vá".
Ainda com o maldito medo me assombrando, logo eu, que me acho tão valente, fui consultar uma amiga, bambam da psicologia, professora da Universidade de Brasília (UnB), reconhecida e respeitada. Mas antes de tudo, minha irmã desde os 8,9 anos, portanto, esperava dela um pouco mais de complacência, doçura e até mesmo candura. Mas foi dela que ouvi o mais duro dos conselhos: "Temos 55 anos, vivemos mais da metade da vida. O que temos pela frente é muito pouco. Você está perdendo tempo para ser feliz. Reaja".
Compartilhando, agora, esse desafio que me impus, lembro do poema A vida, do meu eterno querido Mario Quintana. Nele, o poetinha diz: "Depois de muitas quedas, eu descobri que, às vezes, quando tudo dá errado, acontecem coisas tão maravilhosas que jamais teriam acontecido se tudo tivesse dado certo...Parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes....Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo".