ANA MARIA NOGALES e LUCIO RENNO, professores da UnB e pesquisadores
Por ocasião do Dia Mundial da População, celebrado anualmente em 11 de julho, o ObservaDF traz à discussão o tema dos cenários populacionais para o Distrito Federal, com o objetivo de sensibilizar a sociedade civil e gestores públicos para os grandes desafios que deveremos enfrentar, mas também para as oportunidades que se apresentam. Com base nos dados do Censo de 2022 e no estudo sobre estimativas e projeções populacionais de 2000 a 2070 do IBGE, o ObservaDF analisou a dinâmica demográfica entre 2000 e 2022, assim como as perspectivas de crescimento e mudanças na estrutura etária até 2060, quando a capital federal completará 100 anos. Essas análises estão reunidas no estudo Cenários populacionais para o Distrito Federal: oportunidades e desafios, disponível em observadf.unb.br, do qual extraímos os principais resultados.
Os dados do Censo de 2022 mostraram que o Brasil, como um todo, e o DF, em particular, diminuíram fortemente os seus ritmos de crescimento. Entre 2010 e 2022, a taxa de crescimento populacional no DF caiu pela metade, quando comparada com o período de 2000 a 2010 (de 1,92 para 0,92). Além da constante redução dos níveis de fecundidade nos últimos anos, a diminuição do ritmo de crescimento do DF também se deve à mudança nos fluxos migratórios. Entre 2017 e 2022, segundo dados recentemente divulgados pelo IBGE, o DF apresentou, pela primeira vez, saldo migratório negativo, estimado em 91 mil pessoas. Ou seja, tivemos um número maior de pessoas que deixaram de residir no Distrito Federal do que daquelas que se mudaram para cá. O principal fluxo migratório de saída do DF tem como destino os municípios da Periferia Metropolitana de Brasília (PMB), como Águas Linda de Goiás, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental e Luziânia, explicado pelas diferenças no custo de vida e pela políticas governamentais, como o Programa Minha Casa Minha Vida.
Outro resultado importante, mas já esperado, foi a intensificação do processo de envelhecimento populacional. Enquanto o contingente de crianças e jovens teve uma redução expressiva no seu volume, a população de idosos, ao contrário, teve um forte aumento. Em 2022, 12% da população do DF tinham 60 anos ou mais de idade, e 50% tinham idade acima de 34 anos. No entanto, além das enormes desigualdades de renda, o DF apresenta enormes diferenças no que se refere às características demográficas. Por um lado, temos as áreas de alta renda com população mais envelhecida, e, por outro, as áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica com uma elevada proporção de crianças e adolescentes.
Quanto à distribuição da população, verifica-se que, em termos gerais, não houve mudanças importantes entre 2010 e 2022. Destacam-se, no entanto, o forte crescimento das regiões administrativas (RAs) Águas Claras, Jardim Botânico e Riacho Fundo II, com taxas de crescimento acima de 5% ao ano no período. Em contrapartida, o que mais chama a atenção é o esvaziamento da área central de Brasília, com as RAs Plano Piloto, Cruzeiro, Sudoeste/Octogonal e Candangolândia apresentando diminuição do número de residentes.
Com a concentração das atividades econômicas nas áreas centrais e o local de residência da população do DF cada vez mais disperso nas RAs situadas ao longo dos eixos de transporte oeste (46%), norte (14%), leste (11%), sul (10%) e sudoeste (9%), fica claro porque a mobilidade urbana no cotidiano é cada vez mais difícil. Acentua-se, também, o já grave problema de concentração territorial do emprego na área central do Distrito Federal, mas não pela geração de mais empregos nessa região, e sim pela expulsão de pessoas dela.
No que se refere às perspectivas demográficas, as projeções do IBGE indicam que atingiremos o máximo populacional (3,12 milhões) na primeira metade da década de 2040, ou seja, em menos de 20 anos. Chegaremos a 2060, aos 100 anos da capital federal, com um volume populacional de 2,95 milhões de habitantes, valor inferior ao estimado para 2025. O processo de envelhecimento se intensificará com a redução expressiva da participação da população com menos de 15 anos (11,6% em 2060) e o aumento extraordinário da participação da população com 60 anos ou mais (36,7% em 2060). Em 2060, 50% da população do DF terá idades superiores a 50,5 anos.
Se, por um lado, o envelhecimento demográfico traz desafios para a gestão pública e a sociedade, como maior demanda por serviços de saúde, inclusão social, rede de cuidados de longa duração e mobilidade segura. Por outro, essas mudanças geram oportunidades. É possível pensar na valorização das experiências acumuladas pelas pessoas idosas, integrando-as em novas atividades econômicas, e na reavaliação dos investimentos em infraestrutura urbana.
Diante das profundas transformações na dinâmica demográfica recente e os cenários futuros para a população do Distrito Federal, é necessário que comecemos já a implementar ações no sentido de promover qualidade de vida a todas as pessoas em todo o território do DF.
