
Estou a pouco mais de um mês de completar 50 anos. A data, considerada simbólica por muitas pessoas, me faz refletir sobre um tanto de coisas. Na impermanência da vida; na importância de externar — e viver com intensidade — o amor; na necessidade de priorizar o que realmente nos significa: o estar presente com quem amamos. Também honrar aqueles de nós que partiram. Não sei se tiveram a felicidade de fazer uma constelação familiar. A base desse processo terapêutico é a honra aos antepassados. No mesmo mês em que inteiro 50 anos, completa-se um ano do adeus à minha avó Terezinha, em uma manhã de terça-feira, 3 de setembro. Daquelas pessoas lindas, que se doavam à família e era símbolo de força, fé e resiliência.
Honro sua memória. Guardo as melhores lembranças dela. Era a vó Terezinha quem tinha o costume de passear comigo e com meu irmão gêmeo de ônibus, quando crianças. Como se estivesse nos preparando para a jornada maior: a da vida. Quem fazia o melhor biscoito de queijo, a melhor rosquinha com goiabada e quem tinha o conselho exato das horas exatas. Quem adorava preparar uma costela a olha, a carne cozida com banana da terra, batata e couve, porque sabia que era o prato favorito de todos os netos.
Honro os almoços em família, o clima de harmonia que minha avó irradiava e contagiava a todos. A devoção por Santo Expedito e a profunda admiração pelo papa Francisco — chegou a chorar ao telefone, quando lhe contei, do Marrocos, que havia apertado a mão do líder católico argentino. Ela tinha um senso incrível de doação. Minha avó se preocupava com todos, antes dela. Mais do que isso: sofria com o sofrimento do próximo como se dela fosse.
Dia desses, vi uma citação em uma série que me emocionou: nossos entes queridos, depois que fazem a passagem, tornam-se átomos e se fundem eternamente a nós. Sinto a presença de meus avós quase que diariamente. Nas memórias dos conselhos, no sorriso aberto e no amor indescritível pela família. Tenho a certeza de que, um dia, estaremos juntos no plano espiritual. Que a distância é puramente passageira.
Honrar os nossos pais, avós, bisavós, os nossos antepassados, é honrar a nossa história e o que nos tornamos. Somos uma somatória de nossos entes queridos, um continuar de seus legados. Bert Hellinger, o pai da constelação familiar, disse certa vez que "a Alma Maior se move em apenas uma direção, que é unir aquilo que foi separado ". Creio que essa Alma Maior seja a força do amor, não sucumbe à morte. É ela que nos mantêm coesos, unidos, mesmo perante a separação física. Tenho gratidão pelo que meus pais e meus avós me ensinaram. Sobretudo pela oportunidade maravilhosa de ter sido filho de Nelson e Leomara e neto de Wilson, Nelson, Terezinha e Nircia. Carrego cada um deles no peito. E sinto que, no fundo, todos somos um.
Opinião
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