
» PAULO TEIXEIRA, Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar
O tarifaço feito pelo governo de Donald Trump contra o nosso país, sendo que é o Brasil que compra mais do que vende aos Estados Unidos, surpreendeu justamente pela total falta de racionalidade econômica.
Nossa diplomacia e associações setoriais já conseguiram abrir exceções na tarifa para cerca de 700 produtos, mais da metade da nossa pauta de exportações, e vamos seguir negociando. Mas, ainda assim, as medidas adotadas por Washington têm efeitos nocivos sobre alguns setores da economia brasileira, inclusive para produtores da agricultura familiar que exportam para o mercado americano.
Diante de dificuldades imprevistas e sem sentido como essa, o que estamos fazendo no governo é conversar com os setores afetados e trabalhar políticas públicas para superar os problemas momentâneos, nos tornando mais fortes para enfrentar situações parecidas no futuro e dotar nossa economia de maior resiliência hoje e sempre.
O Brasil está bem preparado para transformar essa adversidade em oportunidade por causa de um trabalho de longo prazo para ampliar os mercados de exportação do país, iniciado mais de 20 anos atrás, e por estar retomando mecanismos de apoio para a agricultura e a indústria nacional.
Quando o presidente Lula — um PhD em superar adversidades — assumiu em seu primeiro mandato, em 2003, o mercado norte-americano representava 24% das exportações brasileiras. Hoje, representa apenas 12%. Não porque o comércio entre nós e os Estados Unidos caiu, ele cresceu, mas porque cresceu muito mais nosso comércio com os vizinhos da América do Sul, com a África, com o Oriente Médio e, principalmente, com os mercados do leste Asiático, como a China, a Índia e o Vietnã.
No governo atual, Lula retomou esses esforços e já foram abertos 403 novos mercados para produtos agrícolas brasileiros. Quando eu estive no Acre, conversei com uma cooperativa de castanha que já tinha redirecionado suas vendas dos Estados Unidos para a Europa.
Na agricultura familiar, as principais exportações atingidas pelo tarifaço são açaí, mel, castanhas, frutas (principalmente manga e uva), água de coco, além de pescados. Assim como o café e a carne, todos esses produtos são alimentos que os americanos não produzem ou não são autossuficientes.
As tarifas vão prejudicar principalmente os próprios consumidores dos Estados Unidos, que já estão tendo que pagar mais no supermercado, gerando inflação. Por isso, acredito que essa insanidade feita para tentar pressionar nossa soberania e o Judiciário brasileiro a não defender nossa democracia deve terminar em breve.
Mas enquanto ainda está vigente, o governo federal está criando linhas de crédito para apoiar as empresas e, no caso de alimentos perecíveis, também organizando compras governamentais com estados e municípios, para que os agricultores, as cooperativas e as empresas superem essa dificuldade momentânea e mantenham os empregos dos trabalhadores e a renda dos agricultores. Em parceria com estados e municípios podemos, por exemplo, direcionar a produção de alimentos que não forem para os Estados Unidos para a merenda escolar e outros destinos de consumo interno, continuando a fortalecer a produção, o sistema de abastecimento e a segurança alimentar do Brasil.
Nosso país é o maior exportador de alimentos do mundo e, no governo Lula, voltamos a sair do Mapa da Fome, superando a triste contradição que tivemos na maior parte da nossa história: de produzirmos muita comida ao mesmo tempo em que tínhamos irmãos brasileiros na fila do osso.
Em um governo como o nosso, que se dedica ao trabalho e não ao espetáculo de fake news em redes sociais, quando temos uma dificuldade, trabalhamos junto com a sociedade brasileira e os governos locais para superá-la. Foi assim nas enchentes do Rio Grande do Sul, e assim está sendo no tarifaço.
Vamos transformar o limão do tarifaço na limonada da diversificação dos nossos mercados de exportação, no fortalecimento da nossa produção de alimentos e dos nossos sistemas de abastecimento. Vamos superar a dificuldade e continuar com a nossa economia crescendo e reduzindo o desemprego. E ainda tomar um cafezinho, uma tigela de açaí e fazer um churrasco bem mais barato do que nos Estados Unidos.