ARTIGO

A primeira viagem internacional do papa Leão XIV

O papa Leão irá à Turquia para a comemoração e celebração de um acontecimento miliário na história da Igreja: completar-se-ão 1.700 anos da celebração do primeiro Grande Concílio Ecumênico de Niceia

O pontífice irá ao Grande Concílio Ecumênico de Niceia -  (crédito: Tiziana FABI/POOL/AFP)
O pontífice irá ao Grande Concílio Ecumênico de Niceia - (crédito: Tiziana FABI/POOL/AFP)

» DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, Cardeal arcebispo emérito de Aparecida (SP) e assistente nacional dos Congregados Mariano

Neste Ano Jubilar, ocorrerá um aniversário muito significativo para todos os cristãos: completar-se-ão 1.700 anos da celebração do primeiro Grande Concílio Ecumênico de Niceia, atualmente Iznik, na Turquia, ocorrido em maio de 325.

O papa Leão irá à Turquia para a comemoração e celebração desse acontecimento miliário na história da Igreja. Essa será a primeira viagem internacional do pontificado do papa Leão. Ele participará da celebração ao lado do patriarca Bartolomeu I, da Igreja Ortodoxa, com o objetivo de renovar o compromisso com a unidade dos cristãos e aprofundar o caminho de reconciliação entre católicos e ortodoxos.

É bom lembrar que, desde os tempos apostólicos, em diversas ocasiões, os pastores se reuniram em assembleia com a finalidade de tratar temáticas doutrinais e questões disciplinares.

Nos primeiros séculos da fé, multiplicaram-se os Sínodos tanto no Oriente como no Ocidente cristão, mostrando como era importante guardar a unidade do povo de Deus e o anúncio fiel do Evangelho.

Os cristãos estavam divididos sobre questões de doutrinas e, em particular, sobre a natureza divina de Jesus, confessado Filho de Deus, e sobre sua relação à Deus, o Pai. Os adeptos do arianismo negavam a plena divindade de Jesus e da sua igualdade com o Pai.

Constantino I, no início do século 4, preocupado em preservar a unidade dos cristãos e "consciente de que as divisões dos cristãos poderiam ter consequências nefastas para a paz que ele desejava estabelecer", convocou todos os bispos em Niceia em 20 de maio de 325.

Cerca de trezentos bispos, maioria Oriental, se reuniram em Niceia. O bispo de Roma, o papa Silvestre, não participou do Concílio, mas enviou delegados. 

Os bispos do Ocidente aderiram às decisões do Concílio, na sua grande maioria, sobre uma confissão de fé, afirmando a divindade de Jesus. Jesus Cristo, Filho unigênito do "Pai todo poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, gerado, não criado, consubstancial ao Pai e por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu do céu", em continuação a essa profissão de fé, segue a afirmação da morte e ressurreição do Cristo e, finalmente, a existência do Espírito Santo.

Naquele "nós" cremos, todas as Igrejas se encontravam em comunhão e todos os cristãos professavam a mesma fé. O Imperador deu conhecimento das decisões do Concílio a todas as províncias do império. 

O Concílio de Niceia "é um marco miliário na história da Igreja", afirmava o papa Francisco, ao mesmo em que convidava os cristãos a se unirem no louvor e agradecimento à Santíssima Trindade e, em particular, a Jesus Cristo, o Filho de Deus, "consubstancial ao Pai", que nos revelou esse mistério de amor. Mas Niceia constitui também um convite a todas às Igrejas e às comunidades eclesiais para avançarem rumo à unidade visível, não se cansando de procurar formas apropriadas para compreender plenamente a oração de Jesus: "Que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste".

Um dos objetivos originais do Concílio era estabelecer uma data comum para a Páscoa, a "festa das festas" para os cristãos, a fim de expressar a unidade, pois a diferença no calendário causava problemas pastorais e o enfraquecimento do testemunho cristão. 

A esse respeito, ainda hoje, existem posições diferentes, que impedem de celebrar no mesmo dia o evento fundante da fé. Por uma circunstância providencial, a data da Páscoa neste ano de 2025 coincidiu no mesmo dia para os cristãos católicos e ortodoxos, ambos celebraram a Páscoa no dia 20/04. Essa coincidência é vista como uma oportunidade para reaproximar as tradições católicas e ortodoxas. O papa Francisco e o patriarca Bartolomeu I já haviam expressado o desejo de unificar a celebração da Páscoa para todos os cristãos.

Acompanhemos o papa Leão em sua viagem apostólica a Niceia, e que as comemorações e as celebrações conjuntas dos 1.700 anos do Concílio de Niceia sejam, conforme o desejo do papa Leão, uma ocasião providencial para aprofundar e confessar, juntos, a fé cristológica e para pôr em prática formas de sinodalidade entre os cristãos de todas as tradições. 

 

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postado em 25/08/2025 04:49
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