
Não é só dentro de campo que se faz cera, ou seja, atrasa-se o andamento da partida em busca de benefício próprio no placar. Fora das quatro linhas também. E como! Há partidas invisíveis aos olhos do torcedor. Impressiona a quantidade de decisões proteladas ou até mesmo engavetadas. Faz-se vista grossa. Usa-se o tal do “jeitinho” descaradamente sem que ninguém ouse dar celeridade às decisões.
Acabamos de testemunhar um duelo das oitavas de final da Libertadores naqual o atacante Bruno Henrique, investigado por suposta participação em um esquema de manipulação de resultado na derrota para o Santos, por 2 x 1, em novembro de 2023, no Mané Garrincha, pelo Brasileirão, é favorecido pela lentidão da Justiça. Ele será julgado (não se sabe quando) pelo STJD. Enquanto isso, fez gol no duelo de ida contra o Internacional, no Maracanã, e teve dois anulados no Beira—Rio. Isso já deveria ter sido resolvido por respeito ao jogador e à lisura dos torneios.
E o Inter? Deve, não nega e pagará ao Flamengo quando puder pela contrataçãode Thiago Maia. O time colorado usou o volante contratado por 4 milhões de euros nos três confrontos em oito dias entre os dois clubes como se a compra estivesse quitada. O clube carioca pagou o preço para virar potência financeira e arriscou ser eliminado no como credor colorado.
O clube gaúcho não é o único. O Corinthians desfrutou do volante Raniele no ano passado sem honrar os compromissos financeiros de 2,5 milhões de euros com o Cuiabá por 60% dos direitos do reforço. O Timão sobrevive no Brasileirão, ganhou o Paulistão e pode conquistar a Copa do Brasil com o jogador. O Cuiabá amargou o rebaixamento em 2024 e inicia o fim de semana em nono lugar na Série B.
Impune, o Corinthians deve a Memphis, contratou o Vitinho e deu até jeitinho de inscrevê-lo no Brasileirão a tempo de driblar o transfer ban — a punição da Fifa aos caloteiros no mercado da bola. Bom pagador, o Palmeiras perdeu o título do Paulistão para o Corinthians e foieliminado pelo rival da Copa do Brasil.
Recém-contratado pelo Palmeiras, o meia-atacante Paulinho acionou o Atlético extrajudicialmente cobrando dívidas da SAF. O Galo parou de contratar? Não! Nem mesmo os protestos de Rony e Scarpa contra o atraso salarial vetou as contratações de Alexander e de Reinier. A dívida do clube mineiro é estimada em R$ 2,3 bilhões de acordo com o relatório Convocados elaborado por César Grafietti, consultor de gestão e finanças do esporte.
O Santos deve a Deus e o mundo, mas posa de rico ao ostentar Neymar. Cogitou contratar Jorge Sampaoli, um dos técnicos mais caros da América do Sul. Desistiu jogando a culpa no argentino por excesso de exigências em vez de admitir o óbvio: está quebrado. Só agora a CBF fala em fair play financeiro como antídoto aos calotes.
A Conmebol demora a punir a barbárie no Estádio Avellaneda na partida entre Independiente e Universidad Católica pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. Mais uma prova da inaceitável cera no futebol fora das quatro linhas.