Artigo

O jornalismo presta

O Correio sempre se apoiou em boas reportagens e análises, seja no impresso, seja no digital. Nosso dever é contar boas histórias. Nosso desafio é ter esse olhar voltado para o que merece mais atenção.

 Capa do jornal Correio Braziliense de 02 de fevereiro de 1987, com a sessão de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, no plenário da Câmara dos Deputados.  -  (crédito:  Reprodução/Arquivo Correio Braziliense)
Capa do jornal Correio Braziliense de 02 de fevereiro de 1987, com a sessão de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, no plenário da Câmara dos Deputados. - (crédito: Reprodução/Arquivo Correio Braziliense)

O jornalismo não mora no problema, mas mostra toda sua força quando aponta o dedo para ele. É de uma escuta profunda da sociedade, dos seus dilemas, faltas e necessidades que nosso ofício se molda e se justifica. Com os sentidos aguçados, o jornalista deve treinar a percepção, depurar a informação, entrevistar pessoas e especialistas, denunciar, analisar, também propor soluções. Quando tudo isso acontece em sintonia, com dedicação, o esforço costuma ser reconhecido pelos leitores, por fontes especializadas e até por premiações.

A repórter Darcianne Diogo venceu o Prêmio Sebrae de Jornalismo na categoria Texto (etapa distrital) com a reportagem À sombra dos muros: o comércio que se estrutura ao redor da Papuda, sobre o empreendedorismo na entrada do complexo penitenciário.

São muitas as histórias aparentemente invisíveis que merecem ser contadas a partir dali. As mulheres que vendem produtos na porta do presídio são muito mais que ambulantes. São uma verdadeira rede de apoio para familiares dos presos.

Como disse Darcianne, "Elas não eram apenas guarda-volumes. Serviam também como apoio emocional para familiares de presos, mães, esposas, irmãos, que encontravam nelas suporte psicológico no momento da visita". Mostrar a realidade delas, além de prêmio, rendeu mudança positiva, com a regulamentação da atividade dessas mulheres e a identificação do próprio presídio para que possam trabalhar com mais tranquilidade.

O Correio sempre se apoiou em boas reportagens e análises, seja no impresso, seja no digital, seja em formatos multimídias. Nosso dever é contar boas histórias, independentemente de eventuais prêmios. Nosso desafio é ter esse olhar voltado para o que merece mais atenção.

Outras reportagens, além da matéria de Darcianne, ganharam destaque recentemente. Uma delas foi a série Caminhos do Nascimento, assinada por Roberto Fonseca, Jaqueline Fonseca, Aline Gouveia e Raphaela Peixoto, que retrata a saga para dar à luz no Brasil, marcada por profundas desigualdades.

Muitas gestantes precisam percorrer grandes distâncias devido à falta de maternidades, aumentando o risco de mortalidade neonatal. Mostramos casos, discutimos o problema, além de revisitarmos histórias únicas, como o reencontro proposto pela repórter Jaqueline Fonseca entre um bombeiro e a família da criança que ele ajudou a nascer no Buraco do Tatu.

Também repercutiu um bocado a entrevista com o diplomada Jorio Dauster, que tem vasta experiência em negociações comerciais e fez uma análise bastante contundente dos atos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, referente ao tarifaço imposto ao Brasil e a outros países. Dauster acredita que estamos vivendo uma nova guerra fria e que Trump pratica uma "diplomacia da chantagem", capaz de desorganizar a cadeia de suprimentos a nível global.

Esses são exemplos de conteúdos que importam. Retratam, aprofundam, analisam. Mais do que entregar notícias com profissionalismo e rapidez, é preciso ir além, proporcionando à população repertório para formar opiniões e participar das grandes questões e desafios brasileiros e globais. O jornalismo, ultimamente tão colocado em xeque por quem estimula a desinformação e blasfema contra o bem mais precioso da civilização: a verdade, merece ser visto pelo ângulo correto. Somos uma lente de aumento, colocando foco nas letras miúdas da nossa realidade, para mostrá-la crua sem os tantos filtros e nuances que embaçam a verdade. 

 

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postado em 24/08/2025 03:56
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