
Lembrei-me, nesta semana, de uma entrevista da então ministra da Saúde, Nísia Trindade, em meados do ano passado, na qual ela comentava sobre o empenho da pasta para combater notícias falsas sobre imunizantes, um dos entraves — se não o principal — à ampla cobertura vacinal no país. Nísia também disse que uma das vacinas mais atacadas pelos negacionistas era a contra o HPV. Isso me veio à lembrança porque o Brasil está a comemorar uma vitória nesse enfrentamento aos criminosos disseminadores de fake news sobre imunizantes.
O Ministério da Saúde anunciou que a cobertura vacinal contra o HPV superou os 82% entre meninas de 9 a 14 anos em 2024. Sendo assim, estamos mais próximos de atingir os 90% estipulados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que os países eliminem o câncer do colo do útero como problema de saúde pública. Entre os meninos da mesma faixa etária, o Brasil atingiu o índice de 67% de cobertura vacinal.
São avanços a celebrar, certamente, mas ainda temos muito a evoluir. Reportagem de O Globo mostrou que, na faixa etária de 15 a 19 anos, a vacinação contra o HPV está longe de ser exitosa. Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), citados pelo jornal, apenas 1,5% desse grupo foi alcançado. Isso significa que, dos 7 milhões de adolescentes, somente 106 mil receberam a dose.
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A campanha para esse público-alvo foi lançada em fevereiro e prossegue até dezembro. O objetivo é "resgatar" — como diz o ministério — adolescentes que não foram imunizados na faixa etária prevista no PNI, de 9 a 14 anos. A pasta afirma que tem fortalecido "parcerias com sociedades científicas, organizações não governamentais e o Ministério da Educação, promovendo ações como vacinação em escolas, campanhas educativas e combate à desinformação". A baixa adesão, no entanto, mostra que são necessárias novas abordagens para atingir a meta.
A vacina contra o HPV previne diversos tipos de câncer: de colo do útero, vulva, ânus, vagina, pênis, orofaringe. É uma blindagem para a vida adulta. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) — escritório regional da OMS —, no Brasil, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de tumor com maior incidência entre as mulheres. E a entidade enfatiza que a melhor proteção é a imunização, "de preferência antes do início da vida sexual, para que a vacina garanta a proteção antes do contato com o vírus por essa via".
O Artigo 227 da Constituição determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, uma série de direitos, entre os quais, à saúde. O Estado está disponibilizando a vacina do HPV, cabe a pais ou responsáveis garantir que meninos e meninas recebam a proteção. O imunizante é seguro, eficaz e gratuito. Se há crianças ou adolescentes em sua casa que ainda não receberam a dose, leve-os a uma unidade de saúde. Não deixe que, na vida adulta, eles fiquem expostos a uma doença tão perigosa.