Licenciamento ambiental

Visão do Correio: Maturidade para o licenciamento

A poucos meses da Cúpula do Clima em Belém, o Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo uma contribuição relevante em termos de governança ambiental

O presidente Lula sancionou a lei sobre licenciamento ambiental, tema de intenso debate nos últimos meses, com uma lista de 63 vetos ao projeto de lei encaminhado pelo Congresso Nacional. O ato do Executivo é uma resposta à votação de deputados e senadores, concluída no mês passado sob grande alarde. Sensíveis às demandas do setor produtivo e de investidores, os parlamentares aprovaram uma versão que agradou representantes do meio empresarial e do agronegócio. Em compensação, provocaram revolta de ambientalistas e de entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que consideram o chamado "PL da Devastação" uma eloquente matéria de retrocesso ambiental.

Ao anunciar o veto a dezenas de dispositivos na norma do licenciamento ambiental, o governo propôs um diálogo com o Congresso a fim de se chegar a um denominador comum quanto à legislação ambiental brasileira. A partir dessa premissa, o Executivo abriu duas frentes. A primeira: o envio de um novo projeto de lei, a fim de evitar lacunas regulatórias e insegurança jurídica com as modificações sobre o texto elaborado pelo Legislativo. A segunda frente é a publicação da medida provisória que prevê a Licença Ambiental Especial (LAE), de modo a acelerar a tramitação de empreendimentos considerados estratégicos. A MP, diga-se, atende especificamente a uma reivindicação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Em meio à conturbada vida política nacional — na última semana, o ministro do STF Alexandre de Moraes decretou prisão domiciliar para Jair Bolsonaro, e os apoiadores do ex-presidente promoveram um motim no Congresso Nacional —, ainda não é possível saber com precisão como o Legislativo receberá a proposta do Executivo em relação ao licenciamento ambiental. Mas é improvável que os parlamentares entrem facilmente em acordo com o governo Lula.

Antecedentes sugerem novos embates. Nos últimos meses, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, passou por situações vexatórias com senadores e deputados mais preocupados em "lacrar" nas redes sociais do que em debater sobre meio ambiente. Além do mais, a relação entre o presidente Lula e parlamentares de oposição está longe de ser cordial. Na última sexta-feira, o chefe do Executivo defendeu o impeachment de deputados e senadores que paralisaram o Congresso e exigem o afastamento de Alexandre de Moraes. Segundo Lula, são "traidores da Pátria". Com esse nível de animosidade, não se deve esperar uma discussão ponderada sobre licenciamento ambiental.

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Esse estado de coisas altamente polarizado pode impedir avanços substanciais na definição das regras para o licenciamento ambiental. É preciso conversar, contudo. O próprio governo, ao anunciar os vetos, deixou clara a intenção de que está disposto a encontrar a equação que equilibre desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Espera-se que o Legislativo, por sua vez, tenha maturidade e firmeza para ir ao encontro desses compromissos, imune a interesses predatórios ou ao radicalismo vazio de quem pouco se preocupa com os desígnios da nação.

A poucos meses da Cúpula do Clima em Belém, o Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo uma contribuição relevante em termos de governança ambiental. O país pode provar que, por meio do diálogo, é possível elaborar um arcabouço legal que proteja o futuro das próximas gerações.

 


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