Toda vez em que surgia uma notícia desconcertante, minha avó Maria dizia que estávamos no fim dos tempos. Imagino que a avó dela dissesse o mesmo sobre sua época, e assim retroativamente até o surgimento da primeira avó do mundo. Eu não sou avó, mas hoje penso como elas. Os acontecimentos dos últimos sete dias só podem significar uma coisa: estamos no fim dos tempos.
Talvez, a Terra aguente ainda alguns milhares de anos (embora, aparentemente, o homem esteja fazendo de tudo para destruí-la antes mesmo que o Sol se apague). Mas que tempo é esse em que um homem mata o outro porque não quer esperar alguns minutos até a rua ser desbloqueada? E que, depois disso, passeia com os cachorros? E vai para a academia?
Adiciona mais estranhamento à tragédia do gari morto covardemente o fato de o homem que apertou o gatilho se intitular, nas redes sociais, "cristão e patriota". Quer dizer, considerando o ressignificado que os dois termos têm recebido ultimamente, estranho mesmo seria a ausência deles na autodescrição.
Para completar, descobrimos, no vídeo em que a prisão provisória é decretada, que ele também mente sobre a aparência. As fotos postadas mostram um homem com rosto e corpo semelhantes ao de um "artista de cinema" (para usar uma expressão da minha avó). Era tudo filtro. A imagem real do homem flagrado por câmeras atirando em um trabalhador é a de um brutamontes forjado a esteroides e fast food.
E por falar em ser o que não é, também tivemos, na semana passada, o "bispo" de Goiânia, nacionalmente conhecido, agora, por "pastor de calcinha". Para sua sorte, ele vive em um país laico e democrático, onde, se quiser, pode até realizar a transição de gênero pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O problema não é o homem usar lingerie feminina. Ele pode e deve usar a roupa íntima com a qual se sente à vontade. O problema são os ataques que ele, o pastor de calcinha, desferiu contra homossexuais em suas redes sociais, chegando a condená-los ao fogo eterno.
Atitude tão hipócrita demonstrou a deputada foragida e agora presa na Itália Carla Zambelli. Entre as reclamações sobre a cadeia onde foi trancafiada, está a proibição de levar itens de higiene pessoal. A mesma Carla Zambelli, em 2022, juntou-se a outros 24 deputados para votar contra a distribuição de absorventes em presídios e escolas brasileiras.
E, já no finzinho da semana, "celebridades" resolveram postar fotos chupando chupeta, a nova "trend" da internet.
Talvez este não seja o fim dos tempos. Afinal, sempre houve, como agora, tiranos que tentam interferir no país alheio; políticos que promovem genocídio; patriotas traidores da pátria e moralistas devassos.
Não sei, porém, se esta é a primeira vez em que os adultos roubam a chupeta das crianças.
