ARTIGO

O desenvolvimento econômico e humano do Brasil será digital e inclusivo

O setor de telecomunicações é um dos propulsores para o desenvolvimento do Brasil. Mas, para que as redes se tornem sempre mais robustas, difundidas e resilientes, é preciso um ambiente propício aos investimentos

Alberto Grisellipresidente da Telebrasil e Conexis Brasil Digital e CEO TIM Brasil 

O setor de telecomunicações é o motor da economia digital e um dos propulsores para o desenvolvimento do Brasil. Há quase três décadas, mantém um ciclo contínuo de investimentos ambiciosos e eficazes, que se traduz em avanço tecnológico e inclusão social. Se considerarmos a estratégia do 5G, por exemplo, o país saiu do zero para perto de 70% de cobertura populacional em apenas três anos.

Uma pesquisa feita pela Opensignal afirma que a qualidade de quinta geração no Brasil supera a dos Estados Unidos e da Europa, sendo a terceira rede 5G mais rápida do mundo. Mesmo sob forte tributação, o preço médio do Gigabyte é de R$ 1,90/GB, um dos mais baixos da América Latina. Ou seja: o setor entrega aos clientes brasileiros serviço, qualidade e acesso.

Redes modernas e resilientes habilitam aplicações e democratizam a tecnologia. O Brasil é um dos maiores mercados de inteligência artificial (IA) e é o terceiro país em usuários de ChatGPT, com mais de 43 milhões de pessoas, e projeções de chegar a 165 milhões até 2030. 

Mas, para que as redes, verdadeiro sistema nervoso central da cidadania e da economia digital, se tornem sempre mais robustas, difundidas e resilientes, é preciso um ambiente propício aos investimentos. O setor de telecomunicações brasileiro investiu em 2024 quase R$ 35 bilhões. Segundo a consultoria Omdia, a média de CAPEX/receita do setor é 30% acima do patamar dos EUA (19% vs. 14% em 2024). A equação financeira, historicamente desafiadora, começa a se reequilibrar, o retorno sobre capital investido (ROIC) se aproxima do custo do capital, mas, para isso se estabilizar no longo prazo, é preciso de políticas públicas focadas em duas frentes: o reconhecimento do valor criado pelas telecomunicações no ecossistema digital e a criação de valor.

Esse ambiente propício não depende só de capital; pede previsibilidade regulatória e incentivos bem desenhados. Harmonizar regras para antenas, reduzir judicialização e simplificar tributos em cascata diminuem o custo de expansão. Diante do salto do tráfego, vale ainda avançar no debate sobre alocação equilibrada de custos na cadeia digital, com critérios técnicos, transparência e foco no usuário.

Por isso, reconhecer o valor das telecomunicações no ecossistema digital significa primeiramente desenhar uma tributação essencial condizente ao caráter essencial do serviço, começando por exemplo com a manutenção da atual isenção de taxas do IoT. Ao mesmo tempo, se tornou urgente resolver os crônicos desequilíbrios pelos quais os grandes usuários globais (as Big Techs) hoje não contribuem em nada para as redes locais, apesar do crescimento exponencial do tráfego cursado.

Já a criação de valor passa por algo que podemos definir — a digitalização do PIB. Em termos concretos, acelerar essa transformação pode adicionar R$ 1 trilhão por ano na economia, cerca de 10% do PIB do país, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). A oportunidade é evidente em vários setores. No agronegócio, por exemplo, apenas um terço das fazendas tem conexão, e levar tecnologia ao campo pode elevar a produtividade em até 67%. Na indústria, a modernização dos processos produtivos renderia ganhos de até 38%. E, nas cidades, conectar iluminação, saneamento e mobilidade melhora serviços e economiza recursos. Com integração e parcerias, a escala vem rápido e, além disso, a tecnologia se torna sempre mais aliada da resposta climática, sobretudo pela transição verso o uso de energia limpa.

Na prática, essa digitalização ocorre em camadas: conectividade confiável, uso de inteligência artificial, integração de processos. Casos mais maduros incluem redes privadas 5G em fábricas, telemetria no agro, telemedicina e iluminação inteligente nas cidades e rodovias. Para ganhar escala, é preciso qualificar pessoas e fortalecer a segurança cibernética. Os resultados serão capazes de atrair investimentos e ajudar a orientar políticas públicas e parcerias.

É de toda evidência que o setor de telecomunicações seja a base da escola que ensina, do hospital que cuida, do campo que produz, da indústria que compete, do empreendedor que prospera e da cidade que funciona. É importante seguir com diálogo, cooperação e visão de futuro para conectar governo, empresas, reguladores, academia e sociedade. O desenvolvimento econômico e humano do Brasil não pode esperar e será essencialmente digital e inclusivo.

 

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