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Por trás das linhas: o papel dos pais nos esportes dos filhos

Por mais que algumas famílias tenham pressa, a idade recomendada para a especialização em um único esporte, com competições frequentes, é aos 11 anos

 29/04/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Quadra de esportes na quadra 102 Norte. Aluna da escola classe 102 Norte na aula de educação física- futebol. -  (crédito:  Minervino Júnior/CB)
29/04/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Quadra de esportes na quadra 102 Norte. Aluna da escola classe 102 Norte na aula de educação física- futebol. - (crédito: Minervino Júnior/CB)

ANDRÉA JÁCOMO, pediatra, professora de medicina no Ceub, coordenadora do Departamento de Pediatria Ambulatorial SPDF

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Que esporte é saúde, não vou repetir, mas com qual idade e como estimular a prática saudável tem sido uma preocupação tanto nas consultas on-line como nas presenciais. Tenho visto e atendido mães e pais cada vez mais preocupados na busca pela melhor estimulação seja para bebês, seja na primeira infância e até a adolescência.

Desde os primeiros anos de vida, o estímulo à atividade física faz parte dos cuidados das crianças para que possam, à medida que crescem, alcançarem os marcos do desenvolvimento. O que parece brincadeira vai aos poucos estimulando a coordenação motora e a aquisição de habilidades e competências. Pediatras e pais estão sempre atentos a essa fase, na qual o equilíbrio é fundamental para que os bebês não sejam hiperestimulados nem negligenciados.

Mais autônomas, nos parquinhos e pré-escolas, as crianças viram verdadeiros treinadores para os pais, haja energia e força nas pernas e braços para acompanhar a correria e todo movimento é bem-vindo! Nessa idade o grande esporte é a brincadeira, o balanço no parquinho, o esconde-esconde, andar de triciclo e algumas modalidades esportivas vão sendo aos poucos  incluídas de maneira lúdica.

Na idade escolar, as crianças vão experimentando, ou pelo menos deveriam ser estimuladas a experimentar, várias modalidades esportivas nas aulas de educação física. É a oportunidade de trabalhar a cooperação entre os pares, o respeito às regras e aos treinadores e, principalmente, a alegria de aprender novos movimentos! É a idade da diversificação, de atravessar as primeiras riscas de linhas das quadras esportivas,  o que ajuda muito na habilidade motora, mas também no comportamento emocional, quando aprendem a lidar com a frustração de errar para aprender.

Por mais que algumas famílias tenham pressa, a idade recomendada para a especialização em um único esporte, com competições frequentes, é aos 11 anos. Atualmente, temos evidências de que o início precoce na especialização pode trazer mais malefício do que benefício para a saúde física e mental. O índice de exaustão e desistência por lesões é inversamente proporcional à idade que iniciam a especialização. Isso não impede que pratiquem o esporte desde menores, mas é preciso cuidado com os fatores externos, como cobranças exageradas e altas expectativas, que podem influenciar negativamente o desempenho dos jovens atletas. 

O envolvimento das famílias é fundamental na logística de suporte financeiro e emocional. O trabalho em harmonia, ou em desarmonia, com os treinadores e com os outros pais pode fazer toda a diferença. A partir do momento em que começam a atravessar as raias e linhas que delimitam as quadras e campos fora do ambiente escolar, as competições ficam mais acirradas e os pais deixam de ser apenas os provedores, transportadores para ter um papel de apoio e estímulo nas vitórias e, principalmente, nas derrotas.

Dentro dos limites das linhas, quadras e raias de competição as crianças e adolescentes precisam ter espaço para cometerem os seus erros e aprenderem com eles, espaço para vibrarem com as vitórias e superarem as derrotas. Quem fica atrás das linhas, tem que ter coração forte e ser exemplo de comportamento respeitoso pelos outros pais, mas principalmente pelos outros atletas em desenvolvimento. O amor pela prática de atividade física pode e deve ser ensinado desde cedo, o respeito e cordialidade, também. 

Difícil uma criança que não teve estímulo da família se interessar pelo esporte. Mas difícil não quer dizer impossível. Como mãe de dois, encontrei nas atividades físicas um caminho para diminuir o tempo de telas dos meus filhos na primeira infância e, hoje, admiro os meus, agora já adolescentes, persistirem no esporte que escolheram. Eles tiveram a oportunidade de praticar ginástica, natação, judô, futebol, vôlei e acabaram seguindo o esporte do avô e do pai, o tênis. Pelas quadras onde andei e ando o músculo de mãe e pediatra que precisou ficar mais forte foi o coração, não é fácil lidar com as frustrações nem deles nem dos adversários e aí o papel da família em conjunto com os treinadores, cada um respeitando seu espaço, é fundamental.

 


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postado em 03/11/2025 06:04
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