
» BASÍLIA RODRIGUES, Jornalista e comentarista política do SBT News
» RUY CONDE, Jornalista e estrategista de comunicação. CEO da It Comunicação Integrada
De uma hora para outra, o mundo parece em suspenso. A pauta global muda em minutos: Lula e Trump se encontram, uma flotilha é resgatada em Gaza, uma nova inteligência artificial promete transformar o trabalho humano. E cada um desses eventos rearranja a atenção coletiva. O que antes durava semanas no debate público agora se esgota em horas. Nesse turbilhão, onde fica o indivíduo e sua história pessoal?
Enquanto líderes e acontecimentos globais disputam espaço nas manchetes, cada pessoa vive sua vida e, dentro disso, a própria guerra de versões. A reputação, esse ativo invisível, anda muito vulnerável. Ela não é apenas o que se diz, mas o que se compartilha. Já não é apenas o que se constrói, mas o que o algoritmo decide exibir. Ao mesmo tempo, é dela que dependem a confiança, o cimento das relações, da política, dos negócios e até da democracia.
Em quem acreditar quando o assunto é uma pessoa? E se essa pessoa for você?
Em sociedades polarizadas e hiperconectadas, a reputação virou terreno de disputa. De um lado, as máquinas de difamação, que se sentem capazes de destruir trajetórias em minutos. Do outro, as narrativas cuidadosamente produzidas para parecer verdadeiras. Entre as duas forças, há pessoas — jornalistas, políticos, cidadãos — tentando preservar o que resta de coerência e sentido.
A internet trouxe uma ilusão de controle sobre a imagem. Todos podem falar, publicar e opinar. Mas o mesmo ambiente que empodera é o que mais expõe. A linha entre o que é dito e o que é acreditado se dissolveu. Quando a percepção pública se torna mais poderosa que a verdade factual, a reputação está em risco.
E o perigo é silencioso: um boato mal formulado, um corte de vídeo fora de contexto, uma manchete enviesada. Basta um clique para alterar a narrativa, basta um compartilhamento para consolidar uma mentira. O algoritmo não julga intenções, apenas recompensa o que engaja, ainda que seja conteúdo destrutivo. O novo tribunal da opinião pública é digital, automatizado e sem apelação.
Cuidar da reputação é cuidar da própria vida. É resistir à lógica da exposição sem propósito, da opinião instantânea, da destruição moral como entretenimento. É um gesto de autocuidado e também de cidadania. Proteger a reputação é afirmar que há limites éticos no modo como nos relacionamos com a informação e com o outro.
A reputação não é apenas o que os outros dizem sobre você. Isso mudou porque hoje tem muita gente falando — inclusive mentiras — e sendo ouvida por isso. Reputação é, em verdade, o que sobrevive quando tudo o mais se cala. É o que resta quando as manchetes mudam, os algoritmos giram e as massas se dispersam. É o que ainda fala quando o ruído termina.
A reputação não é um monumento imutável; é um organismo vivo, sujeito a ataques, revisões e reconstruções. Segue sendo construída todos os dias e pode ser destruída também. Vence quem adotar mais ênfase, tempo e estratégia. Não há jogo vencido enquanto vivermos revoluções na comunicação. É preciso observação, prudência e, sobretudo, propósito.
O desafio de agora é compreender que reputação não se defende apenas com silêncio ou indignação, mas com presença. É estar onde a conversa acontece, sem se perder nela. É usar o algoritmo e as redes como aliados, não como inimigos. É reaprender a comunicar-se com clareza e verdade, ainda que em meio ao barulho.
Preservar a reputação, em tempos de desinformação e hiperexposição, é um ato político. É dizer que a integridade continua valendo, mesmo quando a verdade parece fora de moda.
