
"Vou fazer um Pix" é, possivelmente, a promessa mais cumprida pelos brasileiros. O volume diário de transações financeiras por meio dessa ferramenta de pagamento instantâneo reforça a premissa: balanço do Banco Central (BC) indica que, no último 5 de setembro, foram 290 milhões de operações em 24 horas, somando um total de R$ 164,8 bilhões. Um recorde em uma sexta-feira, véspera de feriado, evidenciando que, com cinco anos de existência, esse sistema mudou a lógica de pagamento no país, colocou em xeque a ideia de que inovação e soluções estatais não podem caminhar juntas e, sobretudo, promoveu a inclusão financeira.
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No mês em que a ferramenta foi lançada, novembro de 2020, 6% dos brasileiros fizeram ao menos um Pix. Em outubro deste ano, 90% da população — nove em cada 10 pessoas — recorreu ao sistema para fazer pagamentos. Da média de R$ 500 nos dias seguintes à implementação, o país passou para a soma de R$ 188, indicando a popularização do método que impulsiona as economias formal e informal. Durante 2024, foram movimentados R$ 26,4 trilhões com o sistema, calcula o BC. "Isso equivale a 2,5 PIBs. É um volume fantástico", enfatizou o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do banco, Renato Dias de Brito Gomes, em live recente.
Há de se ressaltar que os aprimoramentos da ferramenta — principalmente pela inclusão de novas funcionalidades — pavimentam essa trajetória exitosa. Ao mesmo tempo, levam o Pix para patamares mais complexos de interação entre agentes econômicos; e, portanto, mais desafiantes. Em discussão, as possibilidades de parcelamento de pagamentos e de realização de transações internacionais tensionam ainda mais as preocupações com a segurança e com o endividamento dos usuários.
No ano em que o Pix completa meia década, veio à tona o maior ataque hacker do país, responsável pelo desvio de R$ 800 milhões de bancos e empresas ligadas ao sistema de pagamento instantâneo. Em 2024, foram R$ 6,5 bilhões perdidos em fraudes, um aumento de 80% em relação ao montante do ano anterior. O BC mudou protocolos, implementou resoluções e lançou recursos — como o botão de contestação — para tranquilizar cidadãos e empresas. Mas faz-se necessário ainda um trabalho intenso de conscientização dos usuários para o uso seguro da ferramenta.
Nesse sentido, também é urgente a concentração de esforços para uma educação financeira em massa dos brasileiros. Há um desconhecimento crônico das práticas de gerenciamento do dinheiro que leva a escolhas que deixam os indivíduos expostos a armadilhas de todas as espécies e impactam a economia, levando à falência de empreendimentos e alimentando os ciclos de vulnerabilidade. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indica que oito em cada 10 famílias estão endividadas. Trata-se do maior patamar da série histórica iniciada em 2010.
O Pix é considerado uma ferramenta inovadora justamente porque, em pouco tempo, mudou comportamentos de compra e venda entre indivíduos e empresas dos mais variados perfis. Há, portanto, uma disponibilidade da população para a adoção de novas práticas para adquirir bens e serviços, com potencial de capilaridade que condiz com o tamanho continental do país. Apostar nessa abertura para disseminar o uso consciente do dinheiro será uma nova revolução financeira que fará diferença estrutural ao Brasil.
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