ARTIGO

A fila anda

Mais de 23% do PIB brasileiro passa por ela, e isso é sobre soberania sanitária

Leandro Pinheiro Safatle, presidente da Anvisa, em entrevista ao CB.Saude -  (crédito: Youtube)
Leandro Pinheiro Safatle, presidente da Anvisa, em entrevista ao CB.Saude - (crédito: Youtube)

» LEANDRO SAFATLE, Diretor-presidente da Anvisa

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» DANIELA MARRECO,DANIEL PEREIRA,THIAGO CAMPOS E RÔMISON MOTA, Membros da diretoria colegiada da Agência

Motivo de irritação para uns e espaço de convivência social para outros, fila é termômetro no Brasil. Desperdício de tempo, símbolo de civilidade, um custo para quem espera, teste moral que avalia quem resiste a tentar furá-la. Na saúde pública, tudo que envolve a superação dessa palavra significa atalho para a inovação. O resultado da otimização de processos e da combinação entre eficiência, gestão e integração. Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "fila" é sobre pedidos de registro e outros processos que aguardam uma análise técnica para virar realidade junto à população, com o aumento de opções terapêuticas e tecnologias em saúde. Ícones que já passaram por esse ordenamento: testes diagnósticos para covid-19, terapias genéticas revolucionárias, medicamentos para doenças raras e, recentemente, a histórica vacina da dengue produzida pelo Instituto Butantan. 

Se 23% do PIB brasileiro passam pela Anvisa, essa fila precisa ser enfrentada com prioridade absoluta para que o país possa avançar com segurança e previsibilidade. Em seis meses, ser reduzida a 50%. E, ao final de um ano, normalizar completamente os fluxos. A meta é ousada, mas é o objetivo a ser perseguido pela Diretoria Colegiada da Agência. Há 100 dias, a nova gestão tomou posse e, junto com os demais diretores, lançou as bases para outras mudanças inerentes ao alcance desse objetivo: o aprimoramento de processos, a chegada de novas servidoras e servidores, o uso estratégico da inteligência artificial, utilização de critérios de gestão de risco, mais tecnologia e modernização em todos os níveis de análise. Assim como nas maiores filas que o nosso país já viu, essa jornada é uma maratona — e não uma corrida de 100 metros. 

Trilhar o caminho da inovação também é sobre estar perto de quem faz a inovação no nosso país. Estamos falando de cientistas, de quem fomenta a pesquisa nas universidades e empresas, de parcerias regionais, nacionais e internacionais em favor de projetos que convertem ideias em vacinas, medicamentos, equipamentos e dispositivos médicos. Também é sobre a comunidade científica que trabalha pelo aprimoramento da segurança de cosméticos, saneantes, suplementos, alimentos e outros insumos monitorados pela vigilância sanitária. O Brasil só tem a ganhar quando pesquisa, inovação e regulação se aproximam. A ciência tem que estar de mãos dadas com a saúde pública. 

No contexto internacional, a redução da fila brasileira tem outro significado relevante: segurança jurídica e previsibilidade para quem quer investir aqui. Os primeiros acenos são positivos, uma vez que 2025 está terminando na expectativa de consolidar uma das mais altas marcas de registros de medicamentos sintéticos desde a criação da Agência, a redução de 40% no passivo de análises de dispositivos médicos e a redução de 22 para nove meses no tempo de análise de produtos biológicos. Já o tempo médio para autorização de pesquisas clínicas diminuiu em 44%. Garantia de qualidade na concessão de autorizações e registros e proteção da saúde também contribuem de maneira decisiva para a estabilidade do país. 

Na prática, ter uma Anvisa cada vez mais atuante e fortalecida pode significar ter medicamentos mais eficazes com preços acessíveis, prevenir contaminações que podem chegar de navio, caminhão ou avião, evitar reações adversas em procedimentos de beleza, no uso de produtos de limpeza e outras atividades do dia a dia. Com segurança, fiscalização, pesquisa e inovação, a vida segue melhor para a população. Diálogo e transparência são necessários para que o pacto entre a vigilância sanitária e a população funcione. E é com base na confiança no trabalho desenvolvido por 1,5 mil servidoras e servidores da Anvisa que, em 2026, vamos poder atuar de forma ainda mais contundente em relação a temas relevantes para quem precisa. 

Parte estruturante do Sistema Único de Saúde (SUS), a Anvisa está em tudo. Do seu cafezinho ao rótulo dos alimentos, passando pelos respiradores que salvaram vidas na pandemia e pelo antídoto que evitou o pior para pessoas que consumiram bebidas adulteradas com metanol. Em portos e aeroportos, nas fábricas e no campo, ainda estamos aqui. Há quem associe a natureza fiscalizatória da vigilância sanitária à proibição. Mas, como em todo relacionamento, é fundamental fazer o exercício de observar por outros ângulos: quem fiscaliza, cuida. Previne. Protege. Cada análise concluída representa a transformação de anos de trabalho e investimento das empresas em entregas concretas e benefícios coletivos. Enquanto você lia este artigo, a boa notícia é que a nossa fila andou.

 

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Por Opinião
postado em 14/12/2025 05:55 / atualizado em 14/12/2025 09:37
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