
» RUTH HELENA LIMA, Gerente de Marketing e Comunicação do Banco da Amazônia
Quando pensamos na criação do Centro Cultural do Banco da Amazônia, tínhamos como principal objetivo promover e valorizar a cultura amazônica, conectar a região ao mundo e servir como um espaço de expressão artística. Porque nós sabíamos que teríamos o que mostrar a partir de nosso ecossistema cultural amazônico intenso, renovável, profundo — irmanado com a arte viva da natureza. Com a COP30 movimentando Belém, tivemos a certeza de que nossa percepção estava correta.
Correta porque não é originária de nós, mas fruto de nossa ancestralidade. A região amazônica tem um compromisso com a cultura que antecede, e muito, os debates sobre sustentabilidade e preservação ambiental. Sabemos disso desde 1878, quando foi inaugurado o Theatro da Paz de Belém — do qual hoje somos vizinhos. Considerado pelo Iphan um teatro-monumento e patrimônio histórico, é o primeiro teatro de ópera da Amazônia e um dos primeiros teatros líricos do Brasil. Promovemos e cultuamos a arte, portanto, antes de o Brasil virar República.
O mundo mudou, a importância da preservação ambiental surgiu e virou consciência global, e isso impactou mais ainda na cultura da nossa região, tão rica e diversificada. Porque valorizou a produção local, os ritmos, as cores, os ambientes, os sons, os sabores nativos. No século 19, o chique era trazer artistas de fora. Hoje, somos nós quem exportamos valores e atraímos turistas de todos os cantos para assistirem às nossas produções culturais.
Quase 130 anos depois, meio ambiente e cultura se entrelaçaram na COP30 de Belém. Os líderes mundiais e empresários discutiram caminhos para financiar o desenvolvimento sustentável. Mas, em paralelo aos debates políticos, econômicos e sociais, uma vida pulsante com shows, apresentações de cinema, teatro, exposições, irmanando povos de diferentes origens em um bem intangível e, ao mesmo tempo, visível e palpável: a arte.
É certo dizer que, oficialmente, foi a primeira vez que os dois temas dialogaram de uma maneira tão direta, íntima e explícita. Mas só quem é leigo é capaz de distanciá-los no imaginário popular. Mas, dessa vez, de forma mais nítida, a comunhão entre arte e natureza pôde ser vista em vários momentos na cidade, em diversas ações realizadas, patrocinadas ou apoiadas pelo Banco da Amazônia.
Foi vista na primeira ação itinerante promovida pelo nosso Centro Cultural, pulverizando cultura por diferentes espaços da capital paraense. Como ponto de partida, nada mais natural que uma obra roteirizada e dirigida por uma mulher paraense forte, conhecida nacionalmente, mas que sempre enalteceu e valorizou as origens e o solo no qual deu os primeiros passos, tanto artísticos quanto na vida: Dira Paes.
Pasárgada, o filme, foi inspirado no poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, e funcionou como um exemplo de conexão da sociedade urbana, corrida, tumultuada, com o mundo natural e a capacidade de escuta dos sons e da alma da floresta.
A mesma veia artística levou o Centro Cultural Banco da Amazônia a aderir a um programa de sucesso, existente desde 2023: Uma Noite no Museu. Pois é. Lembra dos dois filmes sucessos de público e crítica com o saudoso autor Robin Williams? A ideia é semelhante. Visitas noturnas — sem direito a sustos com obras ganhando vida, obviamente — para que os visitantes possam apreciar obras diversas nos espaços culturais que compõem o Sistema Integrado de Museus e Memoriais.
E a nossa estreia foi em alto estilo. A fachada foi transformada na primeira galeria de arte urbana da cidade, projetando obras visuais que celebram a vanguarda artística da região. A entrada foi preenchida por duas instalações. A primeira, intitulada Banzeiro, da artista Roberta Carvalho, representa um mergulho imersivo em um túnel onde se projetam imagens dos rios amazônicos em diálogo com sons e palavras, proporcionando uma experiência sensorial que conecta arte, natureza e linguagem.
A segunda é uma instalação da artista visual e poeta Keyla Sobral, que conta com a curadoria de Orlando Maneschy, apresentando frases-poema que expressam sonhos e esperanças para o futuro da Amazônia, convidando à reflexão sobre diversidade e coletividade.
No espaço interno, três grandes exposições: Mandela: Ícone Mundial de Reconciliação, uma exposição inédita com 50 painéis fotográficos e uma instalação audiovisual que retratam a trajetória do líder sul-africano; Habitar a Floresta traz 14 projetos arquitetônicos inspirados nos saberes ancestrais de povos tradicionais da Amazônia e da América Latina; e Clima: O Novo Anormal, que une arte e ciência para abordar a crise climática global.
A COP30 durou apenas o mês de novembro. O legado dela, no entanto, vai se estender e esperamos que se torne perene. Que a cultura se torne cada vez mais acessível e inclusiva e que exalte as nossas tradições e raízes, assim como a magia da arte e a beleza da natureza: sempre presentes.
