José Horta Manzano — empresário
Já estamos no futuro? Pois ele me parece bem diferente do que tudo o que costumavam nos prometer no passado. Nos diziam que, no século 21, tudo seria "atômico" (termo da época para designar a modernidade), que os carros deslizariam pelo ar, que a comida se resumiria a pílulas coloridas, que viajaríamos à Lua com a velocidade do pensamento. Tirando o russo Putin, que não se cansa de nos lembrar que ele a possui, a arma atômica saiu do noticiário. Carros continuam se arrastando no engarrafamento insano das metrópoles. A comida continua baseada em prosaicos arrozes e feijões. Apesar de uma ou outra nave enviada à Lua, o astro continua mais ao alcance dos namorados que dos turistas.
Mas que diferença há, então, entre hoje e algumas décadas atrás? Vivíamos na quase certeza de que uma guerra entre nações da Europa e da América fosse fantasma do passado, devidamente exorcizado e enterrado. Trágico engano. Aliás, essa impressão de paz garantida está entre os fatores que contribuíram para o ressurgimento de robustas falanges de extrema-direita.
A assunção do presidente Donald Trump, em janeiro 2025, assustou as gentes e ribombou como trovão em céu azul. Brutal e impiedoso, o novo inquilino da Casa Branca, verdadeiro viking emerso de tempos primitivos, passou a comportar-se como se senhor dos mundos fosse. Ameaçou anexar o Canal do Panamá, a Groenlândia e até seu vizinho do norte, o imenso Canadá. Prometeu expulsar 11 milhões de estrangeiros. Fez olhos lânguidos para o déspota Vladimir Putin. Bombardeou o Irã. Afagou Netanyahu, enquanto este destruía, com canhões e mísseis, o formigueiro miserável em que Gaza se transformou. Para coroar, aumentou dramaticamente os impostos de importação americanos, perturbando os fluxos da economia mundial.
Após o fulgurante progresso que tem feito, a inteligência artificial (IA) deixa de ser vaga promessa e vai-se instalando como infraestrutura silenciosa de poder. A política econômica global passou a viver aos sobressaltos, com juros elevados e crescimento baixo. Todos os países, sem exceção, vivem em permanente estado de alerta, sempre na aflitiva espera do próximo anúncio bomba de Mr. Trump. O anormal normalizou-se.
E o Brasil nessa ebulição? É curioso notar que, em nosso país, dispensamos influências d'além-mar para abalar o curso de nossa existência. Sabemos muito bem como nos aperrear nós mesmos. Na política brasileira, 2025 foi o ano em que o futuro perdeu o glamour. Tivemos, já para o final do ano, o julgamento dos réus da sedição de 22-23, que deixou um epitáfio nulo: nenhum dos condenados exprimiu arrependimento — numa confirmação tácita que dispensa confissão.
Para quem ainda contava com alguma renovação do discurso político, o que sobrou foi a sempiterna gestão de crises. Assistimos à ressurreição de debates antigos, como soberania, nacionalismo, protecionismo. Incansável, o discurso presidencial insiste na velha pregação lulopetista de um Estado forte. Apesar da renovação pela qual passou a Câmara, com a entrada de representantes mais jovens e, esperava-se, portadores de ideias novas, nossa política continua entravada, pouco criativa, distante dos anseios dos eleitores, sempre mais reativa que propositiva. O próprio governo e, em certa medida, também a oposição, jogam para "não perder", com pouco empenho em se preparar para as transformações de 2026.
Assim, vamos nos preparando para as eleições do novo ano, com pouca imaginação e uma dose de temor. O "Centrão" vai se ampliando como força dominante de nosso Congresso, um agrupamento de contornos indefinidos, com parlamentares sem grude que os ligue, unidos tão somente por uma ganância sem freios, indigna de representantes do povo. Esse centro, em que vicejam personalidades amorais e apolíticas, funciona como espaço de contenção, não de liderança.
Se 2025 nos ensinou algo foi que a política não está à beira de uma ruptura, mas está se acomodando num estado crônico de tensão estéril. É possível que 2026 não traga grandes eventos. E talvez seja exatamente isso que devemos temer.
Feliz ano novo a todos.
