GUERRA DA VACINA

Doria a Bolsonaro: "Vamos salvar os brasileiros, deixe a eleição"

Governador de São Paulo diz a presidente que o país deve reunir esforços para combater covid-19. "Está na hora de o Brasil estar unido e não conflagrado. É hora de protegermos a população, e não de fazer discussão de ordem política, ideológica"

Augusto Fernandes
postado em 21/10/2020 13:58 / atualizado em 21/10/2020 13:58
 (crédito: Governo do Estado de São Paulo)
(crédito: Governo do Estado de São Paulo)

Com a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o governo federal não vai comprar doses da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus desenvolvida em parceria do Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o mandatário e disse que ele deveria se preocupar em salvar vidas em vez de barrar a aquisição do imunizante só porque o governo de São Paulo tem liderado os ensaios clínicos da CoronaVac no Brasil.

Durante entrevista coletiva a jornalistas no Congresso Nacional, nesta quarta-feira (21/10), Doria ponderou que “está na hora de o Brasil estar unido e não separado ou conflagrado”. Para o governador, “é hora de protegermos a população e protegermos vidas, não é hora de fazer discussão de ordem política, ideológica”.

“É hora de paz e de entendimento, presidente Jair Bolsonaro. Vamos salvar as vidas dos brasileiros. Dos brasileiros que o elegeram e dos que não o elegeram. Salve vidas, presidente Bolsonaro. Seja grande, tenha coração. Tenha compreensão de que a vacina salva, e deixe a eleição para o momento oportuno. Agora, é a hora da vacinação, não é hora de eleição”, declarou Doria.

O governador não concorda com o fato de Bolsonaro ter cancelado o documento assinado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na terça-feira (20), que iria garantir a aquisição por parte do governo federal de 46 milhões de doses da Coronavac. O acordo foi estabelecido durante uma reunião virtual de Pazuello com Doria e outros 23 governadores. Deputados, senadores e integrantes do Ministério da Saúde também participaram.

Doria disse que Bolsonaro deveria respeitar o ministro da Saúde, que “agiu corretamente, baseado na ciência, na saúde e na medicina, priorizando a vida dos brasileiros”. “O senhor o indicou. É o terceiro ministro da Saúde do governo. Não é razoável que um presidente da República não respeite posições dos seus ministros. O general Eduardo Pazuello está certo. Ele está ao lado da saúde, da vida, da proteção das pessoas”, disse o tucano.

Ciência e saúde

Apesar do recuo de Bolsonaro, o governador comentou que vai buscar o diálogo com o Palácio do Planalto para manter o acordo da CoronaVac. Ele lembrou que, nos últimos 30 anos, o Instituto Butantan forneceu diversas vacinas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e que os presidentes do país nesse período nunca recusaram os imunizantes fabricados pelo laboratório, apesar das diferenças partidárias e ideológicas .

“São três décadas fazendo isso, todos os anos. Sempre se preservou a ciência, a saúde e o direito dos brasileiros de ter acesso gratuito à vacina. Nós preferimos confiar de que esta posição prevalecerá”, observou Doria. Ele reconheceu que pode recorrer à justiça para que o governo seja obrigado a comprar as doses da CoronaVac, mas disse que essa medida só será adotada em último caso.

“Antes de judicializar, é buscar entendimento. Buscar pacificar. Não podemos conflagrar em termos de saúde. Nós temos que nos unir. Antes de qualquer medida de ordem judicial, vamos para a medida correta, adequada, justa e científica, que é adotar todas as vacinas que possam salvar brasileiros, independentemente da sua origem”, afirmou o governador.

Doria acrescentou que “todas as vacinas tidas como eficazes devem ser adotadas, independentemente de onde são produzidas, de onde são embaladas” e que “todas elas devem ser distribuídas gratuitamente pelo SUS”.

“O que não podemos é adiar aquilo que não precisa ser adiado: adotar a e as vacinas que estiverem em condições de serem aprovadas diante de uma situação de emergência como estamos. É preciso obedecer a ciência, seguir os critérios, mas ter velocidade também diante das circunstâncias que estamos vivendo nessa pandemia”, analisou.

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