Eleições

Fake news e ataques pessoais marcam reta final das eleições municipais

Racha na esquerda, notícias falsas e outras marcas da disputa presidencial de 2018 esquentaram os embates entre candidatos a prefeito. No Rio, "kit gay" e alusões ao diabo dão o tom das acusações entre Marcelo Crivella (Republicanos) e Eduardo Paes (DEM)

Jorge Vasconcellos
postado em 25/11/2020 18:02 / atualizado em 25/11/2020 18:02
 (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
(crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Com fake news, racha na esquerda e outras marcas da disputa presidencial de 2018, o clima esquentou de vez na reta final do segundo turno das eleições municipais. Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, os ataques pessoais entre os candidatos baixaram o nível dos debates e reforçaram a rivalidade entre os grupos políticos.

Na capital fluminense, por exemplo, "kit gay" e alusões ao diabo são os temas da vez no embate entre o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Crivella, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, aparece nas pesquisas de intenção de voto com quase 30 pontos percentuais de desvantagem em relação a Paes. Ante o risco de ser derrotado, o prefeito vem tentando associar o adversário ao PSol e a um suposto "kit gay".

Em um desses ataques, nas redes sociais, Crivella aparece em um vídeo ao lado do deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ). Na gravação, eles acusam Paes de ter um acordo com o PSol, pelo qual o partido de esquerda assumiria a Secretaria de Educação. Afirmam que, com isso, haveria “pedofilia nas escolas”. Porém, o PSol apenas expressou um "apoio crítico" a Paes, e não se tem notícia de um acordo para o partido participar de uma eventual administração do candidato.

Em resposta às acusações, o ex-prefeito tem apontado Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, como “o pai da mentira”, um dos apelidos do diabo. Paes também passou a enumerar os “sete pecados” de Crivella, que seriam: incompetência, omissão, falsidade, fraqueza, hipocrisia, “trairagem” e mentira.

Em 2018, a expressão "kit gay" ficou conhecida nacionalmente depois de ser utilizada pelo então candidato à presidência Jair Bolsonaro, à época filiado ao PSL, para fazer acusações contra Fernando Haddad (PT), um de seus concorrentes. Sem apresentar provas, ele apontou o petista como responsável pela idealização de um material escolar contra homofobia quando era ministro da Educação. Porém, o conteúdo didático, além de não ter qualquer orientação que justificasse a alcunha, era uma iniciativa do Congresso.

Antipetismo

Já a disputa pela prefeitura do Recife provocou um racha entre os partidos de esquerda, com acusações de práticas espúrias por ambos os lados. Às vésperas do segundo turno, dissidências de PDT e PCdoB, legendas que apoiam João Campos (PSB), reforçaram a campanha de Marília Arraes (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto. Em reação, o candidato do PSB investe no antipetismo, vinculando o partido da adversária, que é sua prima, à corrupção, para conquistar eleitores de direita e centro-direita.

Nesta semana, o candidato do PSB teve uma derrota na Justiça Eleitoral. A campanha teve que tirar de circulação uma peça que dizia que a candidata petista era contra o programa ProUni municipal e a Bíblia. Nas redes sociais, João Campos negou aderir ao "baixo nível".

Outro ator importante nesse racha da esquerda pernambucana é o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE). Impedido pela direção nacional do partido de disputar a prefeitura, ele vem sendo apontado por correligionários como traidor, depois de ter manifestado apoio à campanha petista. O pré-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT), de olho numa possível dobradinha com o PSB em 2022, esteve no Recife esta semana para pedir votos para João Campos e gravar mensagens para a propaganda eleitoral na TV.

Em palanque do candidato do PSB no domingo (22), o presidente do PDT, Carlos Lupi, não citou Gadêlha, mas mandou um recado direto: "Quem do PDT não estiver na chapa não tem o que fazer no PDT. No nosso PDT não tem espaço para 'traíra'. O nosso compromisso é de honra, não é de vaidade". O clima pesou ainda mais depois que Gadêlha afirmou, nas redes sociais, que seu chefe de gabinete foi procurado pela coordenação do PSB, interessada em "negociar o meu silêncio" no segundo turno.

Outro dissidente é o ex-prefeito do Recife João Paulo, do PCdoB, que contrariou o partido e manifestou apoio à candidata do PT. "Considero deploráveis os ataques ao PT — partido do qual participei desde sua fundação e que ajudei a construir por muitos anos. Sinto-me na obrigação de repudiar esse tipo de atitude política, que não constrói, não fortalece a disputa democrática em nosso estado e enfraquece as forças do campo progressista", disse João Paulo, no último domingo.

São Paulo

Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição e que lidera as pesquisas de intenção de voto, endureceu o discurso contra o adversário, Guilherme Boulos (PSol). Foi logo depois da divulgação da mais recente pesquisa Datafolha, que indicou que ele caiu três pontos percentuais, e Boulos cresceu três. Em se tratando de votos válidos, a diferença entre os dois é de 10 pontos.

Durante entrevista à rede de rádio CBN, o prefeito paulistano disse achar normal o resultado da pesquisa, garantiu que “vai ser no dia” que os eleitores vão se definir e chamou Boulos de radical. "Só uma visão ideológica para achar que Venezuela e Cuba são democracias porque têm eleição. Isso mostra radicalismo", disse o tucano. Em entrevista há poucos dias à Jovem Pan, o candidato do PSol afirmou que Cuba e Venezuela não são ditaduras porque realizam eleições.

Em reação, a campanha de Boulos centra fogo contra o candidato a vice de Covas, o vereador Ricardo Nunes (MDB), que é alvo de inquérito do Ministério Público estadual por suspeita de envolvimento em irregularidades no aluguel de imóveis para o funcionamento de creches municipais. A campanha do PSol também tenta explorar problemas do oponente na esfera familiar. Em 2011, Nunes foi acusado de violência doméstica, ameaça e injúria pela mulher com quem é casado até hoje. Ele não chegou a ser denunciado à Justiça, porque a queixa foi retirada da polícia.

A campanha do PSol acusa Covas de esconder o seu vice. Nesta quarta-feira (25), Nunes virou piada e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais após faltar a um debate com a candidata a vice de Boulos, a ex-prefeita Luiza Erundina, organizado pelo UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo.

 

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