ELEIÇÕES

Na reta final para o 2º turno, candidatos intensificam campanha em 18 capitais

No próximo domingo, as urnas reabrem em 18 capitais para a escolha do futuro prefeito. E, desde a definição do 1º turno, eleitores viram candidatos dispensarem apoio de Bolsonaro, crise familiar pela disputa entre primos e até mesmo acusações de pedofilia ao adversário

Daqui sete dias, brasileiros de 18 capitais do país irão às urnas para definirem os prefeitos para os próximos quatro anos. Além das capitais, eleitores de outras 39 cidades também terão que participar da segunda rodada das eleições municipais do próximo dia 29.

O Nordeste é a região que terá mais disputas para prefeitos no segundo turno, restando ainda sete das nove capitais indefinidas. Já o Sul é a região mais definida, faltando apenas o município de Porto Alegre, onde Manuela D’Ávila (PCdoB) enfrenta Sebastião Melo (MDB). No Norte, cinco capitais ainda votam no segundo turno e, no Sudeste, Rio, São Paulo e Vitória estão pendentes. No Centro-Oeste, Cuiabá e Goiânia.

Nesta primeira semana de campanha, os candidatos das principais cidades buscaram compor alianças para se fortalecerem na segunda fase. Em São Paulo, por exemplo, partidos de esquerda se uniram na campanha de Guilherme Boulos (PSol) — ontem, a deputada Tábata Amaral (PDT) declarou voto ao candidato —, enquanto Bruno Covas (PSDB) recebeu o apoio formal de Celso Russomanno, que era o candidato do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com as últimas pesquisas, o tucano lidera as intenções de voto com 48% das intenções de voto, enquanto o psolista aparece com 35%.

Na visão do professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), a eleição paulista será uma das mais disputadas e poderá ter mudanças até o dia da votação. “O cenário é de crescimento do Boulos entre os mais jovens, enquanto Covas terá o voto dos mais idosos. Lula (ex-presidente Luiz Inácio da Silva) e (governador João) Doria são cabos eleitorais de cada um dos candidatos, mas enfrentam rejeição em São Paulo. A depender das manifestações desses líderes, Boulos e Covas terão mais ou menos chances de vencerem”, afirma o professor.

Já no Rio de Janeiro, as pesquisas apontam para uma vitória de Eduardo Paes (DEM) contra Marcello Crivella (Republicanos). O democrata lidera com cerca de 70% das intenções de voto, enquanto que o atual prefeito aparece com 29%. “No Rio, a situação do Crivella é muito complicada, já que os eleitores que votaram na petista Benedita (da Silva) e na Martha Rocha (PDT) não votam no Crivella”, avalia Fleischer, sobretudo depois que Crivella disse, em vídeo nas redes sociais, que a vitória de Paes daria ao PSol a Secretaria de Educação e estaria aberta a porta das escolas “para a pedofilia” –– o partido anunciou que vai processá-lo.

Apoio dispensado

Diante das derrotas que a maioria dos nomes apoiados por Bolsonaro no primeiro turno teve, candidatos estão abdicando do apoio do presidente neste segundo turno. Nesta primeira semana de campanha, apenas Crivella (Rio) e Delegado Eguchi (Belém) reforçaram os pedidos de apoio do presidente.

Conforme monitorou o Correio, existe uma resistência até de candidatos da direita que enfrentaram nomes da esquerda em suas capitais. Em Fortaleza, por exemplo, o candidato do Pros, Capitão Wagner, já sinalizou que “não quer nacionalizar a campanha”. Em São Luís, o candidato da oposição, Eduardo Braide (Podemos) também não deve buscar o apoio do presidente.

Em Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos) afirmou que sua candidatura é independente e que chegou ao segundo turno sem o apoio de Bolsonaro. Já em Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), que conta com o apoio da centro-direita, declarou que não quer “padrinhos políticos”.

De acordo com o jurista e especialista em Direito Eleitoral Caio Viena Mello, o distanciamento do presidente é “natural” diante do resultado do primeiro turno. “Assim como o lulismo, o bolsonarismo sofre um desgaste nesta eleição. Seja pela forma como o presidente vem comandando o país ou porque as pessoas que foram na onda Bolsonaro de 2018 não querem mais essa onda. Acredito que o presidente terá que rever suas estratégias para 2022”, afirma o jurista.

Disputa no Recife

Enquanto no centro-sul as pesquisas vão definindo alguns cenários, em Recife a disputa está travada entre duas candidaturas de esquerda — e na mesma família. De acordo com as últimas pesquisas, Marília Arraes (PT) conseguiu abrir uma vantagem contra o seu primo e candidato pelo PSB, João Campos. A petista aparece com 55% das intenções de voto contra 45% do adversário. João venceu o primeiro turno com 29,17%, contra 27,95% de Marília.

Na primeira semana de campanha, as intrigas da parentela marcaram a disputa. Os postulantes ao comando do Recife disputam a herança política de Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, avô da candidata do PT e bisavô do deputado federal pelo PSB.

“Eu nunca me dobrei nem ao PSB, na época em que mandava e desmandava nesse estado. Não vou me dobrar a ninguém. Quem lidera o processo político sou eu. Já você, ninguém sabe se quem vai mandar é sua mãe, é Geraldo Julio (atual prefeito), ou Paulo Câmara (governador de Pernambuco)”, declarou a petista durante um debate realizado pela Rádio Jornal.

Provocado pela prima, Campos questionou o apoio recebido por ela do PTB e do Podemos, partidos historicamente críticos e ideologicamente bem distante do PT. “Causa estranheza você (Marília), hoje, estar se alinhando com aqueles que criticam o PT de ser uma organização criminosa, que chamam o próprio Lula de ladrão. Hoje, você está tirando foto com eles, mas querendo cobrar coerência. Nós temos lado”, rebateu.

Para Fleischer, a disputa em família será a mais “empolgante” deste segundo turno“. Com certeza, a polarização vai ser a mais empolgante de acompanhar. Quem ganhar terá que mostrar trabalho, enquanto quem perder terá que rever suas políticas internas e de parentesco”, analisou.

Para o cientista social Marcos Nobre, professor de Filosofia Política na Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), uma nova correlação de forças deve surgir na política a partir das eleições municipais. Ele crê que o cenário político ficará dividido em três blocos: o do Centrão bolsonarista, o da direita tradicional e o da esquerda. Mas sem que haja um líder evidente em cada um desses universos, que obrigará à formação de alianças.

Nobre destaca que o desenho partidário nas prefeituras deve permitir que direita e esquerda dialoguem sobre eventual frente democrática. “As pessoas esquecem que a política eram dois polos, PT e PSDB, e um ‘mar de PMDBs’ no meio. Agora há essa divisão em três, e não existe líder claro. A hegemonia em cada um desses três campos vai ter de ser muito negociada, e o resultado vai ser muito diferente”, observa.

O professor chama ainda a atenção para um novo formato de polarização. “Era entre direita e esquerda democráticas. Esse mundo acabou no momento em que Bolsonaro chega. Essas eleições municipais mostraram que a polarização é entre o campo democrático e Bolsonaro”, disse.