CPI da Covid

Economia ignorou riscos da pandemia desde o princípio, diz Mandetta

De acordo com o ex-ministro da Saúde, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro não acreditaram no perigo do coronavírus, e seguiram desacreditando os riscos da pandemia mesmo munidos de informações sobre a estimativa de mortos e de novas ondas de contaminação. Para Mandetta, Guedes muniu mal de informações, inclusive o mercado

Luiz Calcagno
Bruna Lima
postado em 04/05/2021 18:22 / atualizado em 04/05/2021 18:24
 (crédito: Edilson Rodrigues/ Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/ Agência Senado)

De acordo com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, optaram por priorizar a economia no combate à covid-19, mesmo com informações sobre o número provável de mortos e sobre o momento em que ocorreria uma segunda onda. Mandetta disse, ainda, que Guedes pode ter induzido ao erro até mesmo empresários e operadores do mercado.

O ex-ministro comentou as escolhas do governo durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 nesta terça-feira (4/5). Mandetta disse que tinha acesso ao segundo escalão de Guedes, mas que o ministro simplesmente não respondia telefonemas ou recados, e que parecia descolado da realidade no que diz respeito à gravidade do coronavírus. “O distanciamento da equipe econômica era real. Não posso negar. Eu dialogava com o segundo escalão sobre algumas questões, mas entre ministros, telefonemas, recados para conversar com ministros não eram respondidos”, relatou.

“Algumas reuniões no ambiente de gabinete de ministros, havia uma visão muito menor da gravidade. Eu dizia que a crise ia longe, e o ministro falava que o Brasil cresceria 2,5%, mas que, com a covid, cairia para 2%, meio por cento do PIB. Eu disse que não estavam compreendendo o tamanho da confusão”, recordou.

Para Mandetta, Bolsonaro e Guedes pareciam apostar em um efeito de rebanho que acabaria em setembro ou outubro de 2020, o que não aconteceu, e isso teria induzido o governo a aceitar o auxílio emergencial de R$ 600, acreditando que em quatro meses não seria mais necessário um socorro aos mais vulneráveis, “não vendo que a doença estava só no primeiro terço”, constatou.

“Sempre houve um distanciamento. Pautar decisões econômicas em um momento de epidemia, de saúde, me parece que teria sido necessário que os ministérios tivessem notas técnicas conjuntas. Muitas tomadas de decisão acabaram sendo equivocadas até por pessoas do mercado, que estavam com seus empreendimentos, que precisavam saber qual é a perspectiva. Para onde vamos”, disse.

“Eu disse quando (a pandemia) ia crescer, ser o aumento, estabilizar, cair, o intervalo para segunda onda, o número de mortes em 2020, e até o fim da pandemia. Todas essas informações eles tinham. Sobre o porquê de pautarem de maneira diferente, fico em dívida”, completou.

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