CPI da Covid

"Governo não respondeu à oferta de vacinas da Pfizer", diz Wajngarten

Em depoimento à CPI da Covid, ex-secretário de Comunicação da Presidência disse que carta do laboratório oferecendo 500 mil doses do imunizante contra o novo coronavírus não foi respondida

Jorge Vasconcellos
postado em 12/05/2021 12:57 / atualizado em 12/05/2021 12:58
 (crédito: Jefferson Rudy)
(crédito: Jefferson Rudy)

O ex-secretário de Comunicação do governo Fábio Wajngarten afirmou, nesta quarta-feira (12/5), durante depoimento à CPI da Covid do Senado, que a Pfizer enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro e a vários integrantes do governo propondo vender ao país um total de 500 mil doses de vacinas contra o novo coronavírus. Segundo ele, a carta era datada de 12 de setembro de 2020, e até novembro do mesmo ano não houve qualquer resposta do governo ao laboratório.

Wjangarten, que depôs na condição de testemunha, falou sobre o assunto ao ser questionado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). O ex-secretário disse ter tomado conhecimento da carta em 9 de novembro, por meio do dono de um veículo de comunicação. Esse empresário, segundo ele, o alertou que a correspondência precisava de uma resposta.

O pedido, segundo Wajngarten, foi endereçado a Bolsonaro, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, ao então titular da Saúde, Eduardo Pazuello, ao chefe da Casa Civil à época, Braga Netto, e ao embaixador brasileiro em Washington, Nestor Foster. Wajngartem acrescentou ter falado sobre o assunto com Bolsonaro.

"A carta foi enviada em 12 de setembro. O dono de um veículo de comunicação me avisa, em 9 de novembro, que a carta não havia sido respondida. Nesse momento, eu mando um e-mail ao presidente da Pfizer, que consta dessa carta. Eu respondi essa carta no dia em que eu recebi. Quinze minutos depois, o presidente da Pfizer, eu respondi para Nova Iorque, o presidente da Pfizer no Brasil, o senhor Carlos Murilo, que virá aqui amanhã, me liga: 'Fábio, muito obrigado pelo seu retorno'. Dia 9 de novembro, e foi o primeiro contato com ele", contou o ex-secretário à CPI, acrescentando ter se reunido com o representante do laboratório em 17 de novembro, no Palácio do Planalto.

"Estive com o CEO Carlos Murilo, em Brasília, pela primeira vez, no meu gabinete, em 17 de novembro, no Palácio. Eu, o meu assistente, o senhor Carlos Murilo e a diretora de Comunicação da Pfizer, nesse dia, 17 de novembro. Nesse encontro o CEO da Pfizer, o senhor Carlos Murilo, me agradeceu por ter respondido a carta e nada mais. Ele disse: 'Eu quero que o Brasil seja a vitrine na América Latina na vacinação da Pfizer'", relatou Fábio Wajngarten.

Questionado pelo relator da CPI, o ex-secretário disse que, durante a reunião, não se falou em preço de vacina. "A reunião foi rápida, ele [CEO da Pfizer] agradeceu minha proatividade e por ter respondido a carta. Nada além disso", disse o depoente.

Perguntado por Renan Calheiros se havia um cronograma para a entrega das vacinas, o ex-secretário disse que não. "Havia uma promessa da Pfizer de que se o Brasil se manifestasse, no tempo adequado, que ela envidaria os maiores esforços em aumentar a quantidade e diminuir o prazo. E foi exatamente isso que eu exigi deles nos dois outros encontros que tive com eles. Eu atuava sempre de forma reativa, nunca de forma proativa, para procurar a Pfizer", disse Wajngarten.

O relator da CPI quis saber se o depoente se considerava apto para participar desse tipo de discussão. "Sim, e considero. Primeiro, porque minha formação é jurídica. Segundo, porque eu tenho histórico de negociação de contratos internacionais", respondeu. "O senhor pode imaginar qual era a pressão da imprensa em atacar o governo, dizendo que não tinha vacina, e a quantidade de mortos e contaminados aumentando toda hora. Eu adoraria que todos os brasileiros tivessem sido vacinados pela Pfizer, porque é uma vacina com 96% de eficácia", disse.

Renan Calheiros perguntou se a participação do então secretário de Comunicação nesse tipo de negociação seria uma ingerência na área de atuação do Ministério da Saúde. O depoente negou. "Eu não fiz negociação. Meu intuito foi ajudar, criar atalhos e encurtar o caminho para que a população brasileira tivesse acesso à melhor vacina. Eu não participei de negociação propriamente dita. Eu quis aproximar pontas diante da negativa de uma carta que não foi respondida, e a Comunicação sofria, em razão das inúmeros questionamentos que a gente recebia", disse Wajngarten.

Ministros da Saúde

Ele também elogiou os ex-ministros da Saúde Nelson Teich e Eduardo Pazuello. "O ex-ministro Pazuello foi corajoso. Ele assumiu a pasta no pior momento da história do Brasil e talvez o pior momento da história do mundo. Poucos teriam a coragem que ele teve de sentar num ministério na pior pandemia que o país já teve", disse.

Questionado sobre a afirmação dada em entrevista à revista Veja de que a dificuldade do Brasil para ter acesso a vacinas se deve à "incompetência da equipe do Ministério da Saúde", o depoente disse que se referia à burocracia. "Eu acho que a incompetência é ficar refém da burocracia. Acho que a morosidade na tomada de decisões, que é uma característica da administração pública, é um problema nos casos excepcionais", como a pandemia.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação