CPI da Covid

Convocação de governadores na CPI esvazia discurso de governistas

Presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que serão convidados a depor como testemunhas nove governadores e 12 prefeitos. A regra é que só serão convocados os que são investigados pela PF

Luiz Calcagno
Bruna Lima
postado em 25/05/2021 17:08
 (crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)
(crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)

Senadores da ala independente e da oposição chamaram para si a responsabilidade de convocar governadores e prefeitos para a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid. Com isso, o governo perde a narrativa de que o colegiado tem a intenção de perseguir o presidente Jair Bolsonaro. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que, os senadores votarão, nesta quarta (26/5) o convite a nove governadores e 12 prefeitos. Com isso, governistas perdem um argumento importante na narrativa de proteção ao governo federal.

Um dos principais defensores do governo da CPI, o líder do DEM no Senado, senador Marcos Rogério (RO), por exemplo, se queixou que a decisão de chamar os governadores e prefeitos teria acontecido em uma “reunião secreta” da oposição com a cúpula da CPI, que ele chamou de “gabinete paralelo”. O senador Otto Alencar (PSD-BA), porém, respondeu que os governistas não participam dos encontros por iniciativa própria. Ele também destacou que serão chamados apenas chefes de Executivo estaduais e municipais citados em investigações da Polícia Federal.

Entre os estados citados estão Amazonas, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rondônia. Além disso, há uma lista de requerimentos governistas ainda não apreciados que também trazem uma série de governadores, vices e secretários. Os documentos datam de 28 de abril e reúnem Wilson Lima, do Amazonas; Rui Costa, da Bahia; Hélder Barbalho, do Pará; João Doria, de São Paulo; Wellington Dias, do Piauí (na condição de representante do Fórum dos Governadores); e o vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho. Porém, nem todos os citados são investigados pela Polícia Federal.

“Onde teve ação da PF, chama. O regimento interno do Senado não permite convocar. Se você convida e não vem, aí convoca”, explicou o senador Otto Alencar. “DF foi PCDF, então não deve colocar. É só ler o ato do presidente (do Senado) Rodrigo Pacheco (DEM-MG), quando fez a convocação para a CPI. Se referiu ao Amazonas e desvio de recursos federais voluntários para estados e municípios. Vamos chamar os casos mais emblemáticos. O governo do estado do Rio de Janeiro, o governador (Wilson Witzel) foi cassado, e o que está no cargo (Cláudio Castro) está denunciado, dois secretários de estado foram pegos abertamente roubando, e falam em Manaus”, destacou.

Segundo o social democrata, a convocação dos governadores já estava “na cabeça” do grupo. “Temos quatro semanas. Vamos entrar em outra fase”, garantiu. Marcos Rogério, por sua vez, demonstrou ceticismo. “O presidente, em uma provocação que fiz, anunciou que vai chamar os nove governadores, mas não está pautado ainda. Talvez ele paute ainda hoje. Tomara. Essa é a cobrança que faço desde o começo, fazer com que a investigação chegue aos estados, onde foram destinados bilhões e há superfaturamento, desvio, contrato fictício, corrupção”, disse.

Ele também garantiu que não terá “blindagem para governadores”. “Essa tratativa ocorreu em um encontro secreto, gabinete paralelo da CPI, do grupo de contingência à covid-19. Foi nessa reunião secreta que definiram que iriam convocar os governadores. Eu aprovo todas as convocações, especialmente onde aconteceram operações da Polícia Federal ou suspeitas fortes de corrupção”, queixou-se. “Há pedido de prisão, afastamento de governador. É impossível que uma CPI que investiga ações e omissões não queira investigar suspeitos de corrupção. Corrupção mata. Se governadores erraram, que sejam punidos. E se o governo federal errou, também”, completou.

Questionado sobre a convocação de governadores esvaziar a narrativa de governistas, o senador Jorginho Mello (PL-SC) minimizou. Lembrou que isso já era previsto no requerimento final da CPI da Covid. “A primeira CPI foi criada para investigar o governo federal. A segunda, inclui estados e municípios. Onde aconteceu desvio de dinheiro? Foi em estados e municípios. As pessoas estão preocupadas. Onde foi parar o dinheiro do combate à pandemia? Teve gente que pagou folha de pagamento atrasado, precatório. E deixaram de atender necessidades da pandemia”, criticou.

Ordem dos depoimentos

O vice-presidente da CPI Randolfe Rodrigues (Rede/AP) também comentou a decisão de Aziz. “Definimos um critério: onde ocorreu operação da Polícia Federal. Nós vamos apreciar os requerimentos que existem nesse sentido, porque tem a ver com o fato determinado, fato conexo a essa Comissão Parlamentar de Inquérito”. As investigações levadas em consideração consistem com aquelas que apuram suspeitas de corrupção com uso de recursos destinados ao combate da covid-19.

A ordem de depoimentos deve priorizar o Amazonas, estado com destaque na CPI pela apuração da crise de oxigênio. O Rio de Janeiro é outro alvo importante. “A [gestão] do Rio de Janeiro tem mais de uma razão para vir aqui, tanto o atual governador quanto o ex-governador. Inclusive, os acontecimentos de domingo”, disse Randolfe. Ele fazia menção à manifestação em favor de Bolsonaro, quando o presidente deu voltas em moto e, sem máscara, subiu a em um trio elétrico, ao lado do ex-ministro Eduardo Pazuello, para cumprimentar os apoiadores.

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