COVID-19

Liderado por Osmar Terra, grupo pode ter feito ação coordenada contra a vacina

Vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma reunião, presidida por Jair Bolsonaro, que pode confirmar a existência de um gabinete paralelo que trabalhou contra a imunização maciça da população e defendeu o emprego da cloroquina no combate à covid-19

Correio Braziliense
postado em 05/06/2021 06:00 / atualizado em 05/06/2021 13:12
Encontro com Deputado Osmar Terra (MDB/RS) -  (crédito: Marcos Correa)
Encontro com Deputado Osmar Terra (MDB/RS) - (crédito: Marcos Correa)

O vídeo de uma reunião no Palácio do Planalto entre o presidente Jair Bolsonaro e médicos do movimento Médicos pela Vida reforça a suspeita da existência de um gabinete paralelo, exposto na CPI da Covid, no Senado, e que está sendo apurado pelos parlamentares. O grupo seria composto por pessoas sem qualquer relação formal com o governo e apresentaria ao presidente Jair Bolsonaro informações erradas e negacionistas para o combate à pandemia do novo coronavírus. Além do vídeo, uma série de fotos do encontro podem ser encontradas no Flickr do Palácio do Planalto, sob o registro “Encontro com deputado Osmar Terra”.

Nas imagens, gravadas em 8 de setembro do ano passado, o momento principal é a fala do virologista Paolo Zanotto. Ele chega ao local onde ocorre a audiência, que já estava em curso, e uma cadeira é colocada junto à mesa em que está o presidente, ladeado de duas pessoas, uma delas o deputado federal Osmar Terra (MDB-RJ) — também apontado como suposto integrante do gabinete paralelo. Bolsonaro, então, bate continência a Zanotto e sorri. Ao discursar à audiência, o virologista fala na criação de um “shadow board” (conselho das sombras, em tradução literal) para assessorar o presidente durante a pandemia.

“A minha sugestão, até enviei para o Executivo e uma carta para o Weintraub, o Arthur (então assessor da Presidência da República), talvez fosse importante montar um grupo. A gente poderia ajudar. Não vou fazer parte desse grupo, não sou especialista em vacina, mas gostaria de ajudar o (Poder) Executivo a montar um ‘shadow board’, como se fosse um ‘shadow cabinet’ (gabinete das sombras)”, relata.

E completa: “Esses indivíduos não precisam ser expostos, digamos assim, à popularidade, essas pessoas que são destruídas pela imprensa”. Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, também é apontado como integrante do aconselhamento paralelo.
Em certo momento, o virologista coloca em dúvida as vacinas que estavam sendo desenvolvidas contra a covid-19. “Com todo o respeito: é lógico que a gente tem que ter vacina. Ou talvez não, porque o grande problema dos coronavírus é que eles tem muitos problemas no desenvolvimento vacinal”, ressaltou.

Também estava presente à reunião, na qual ninguém utilizava máscara de proteção, a médica oncologista Nise Yamaguchi, que prestou depoimento à CPI na última semana. Aos senadores, ela negou saber da existência de qualquer gabinete paralelo, e se disse ofendida por ser colocada como integrante do grupo. “Sou uma colaboradora eventual, participo com ministros de Saúde como médica, cientista, chamada para opinar em reuniões governamentais, reuniões específicas”, afirmou à comissão.
Mas, na reunião de 8 de setembro, ela se volta para Osmar Terra e diz: “Uma honra trabalhar com o senhor nesse período”.

Em determinado momento, um dos integrantes chama o deputado de “padrinho”. Em outro, o presidente diz que entrará em contato com o ministro da Saúde assim que acabar a audiência, aponta para Terra e diz: “Ou então você mesmo”, chamando-o, em seguida, de assessor.
Convocações

O vídeo, que está no Facebook do presidente da República, dividido em quatro partes, repercutiu. “A prova definitiva da existência do gabinete paralelo que a CPI já investigava. Estou convocando o sr. Osmar Terra e o sr. Paolo Zanotto para comparecer à CPI da Covid”, anunciou o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pelas redes sociais.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também se manifestou dizendo que o vídeo “confirma a tese do gabinete paralelo”. “E explica por que o ministro Pazuello dizia que a vacinação se iniciaria no dia D, na hora H. Ele esperava as determinações do ‘shadow cabinet’, o gabinete da morte”, criticou.
Também ontem, Randolfe informou que na investigação da CPI descobriu-se que, na verdade, o governo ignorou 53 e-mails da farmacêutica Pfizer, produtora de vacina contra a covid-19 e que está em negociação com o governo desde o fim do primeiro semestre de 2020. Conforme o vice-presidente da CPI, a última mensagem é de 2 de dezembro. “É um e-mail desesperador da Pfizer pedindo algum tipo de informação porque eles queriam fornecer vacinas ao Brasil”, relatou pelas redes sociais.

De acordo com o senador, a “omissão na aquisição de vacinas da Pfizer acontecia ao mesmo tempo em que o Itamaraty pressionava a Índia para liberar cargas de hidroxicloroquina a uma empresa brasileira”. E acrescenta: “A atuação do Ministério das Relações Exteriores se assemelha, claramente, à advocacia administrativa, em outras palavras: lobby”. (Colaborou Fabio Grecchi)


PGR quer arquivar ação do ataque ao STF

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento da investigação aberta para apurar a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, que atingiu parlamentares e apoiadores bolsonaristas. Cinco meses após ter sido cobrado a se manifestar sobre a continuidade das apurações, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, disse que o inquérito não conseguiu apontar a participação dos deputados e senadores nos crimes investigados. Os parlamentares chegaram a ter os sigilos bancários quebrados no curso das investigações. O parecer da PGR foi enviado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação, a quem caberá decidir sobre o pedido. Na prática, quando o Ministério Público Federal, que é o titular da ação penal, se manifesta pela rejeição de uma investigação, é de praxe que os ministros promovam o arquivamento.

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