CORONAVÍRUS

CPI vai votar pedido de quebra de sigilos de farmacêuticas

Colegiado votará requerimentos para quebras de sigilo de fabricantes de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Intenção dos senadores é apurar se orientações do governo federal a respeito de "tratamento precoce" atendiam a interesses privados

Luiz Calcagno
Sarah Teófilo
postado em 16/06/2021 06:00
O senador Randolfe Rodrigues disse haver indícios de que o presidente teria cometido advocacia administrativa em benefício de farmacêutica -  (crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)
O senador Randolfe Rodrigues disse haver indícios de que o presidente teria cometido advocacia administrativa em benefício de farmacêutica - (crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)

A CPI da Covid votará, até esta quinta-feira (16/6), uma série de requerimentos de quebras de sigilo telefônico, telemático, bancário e fiscal de farmacêuticas produtoras de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Senadores querem saber se houve favorecimento nas orientações do governo pelo uso de remédios no combate ao novo coronavírus — os produtos não têm eficácia comprovada contra a doença. Além disso, os parlamentares pretendem embasar melhor os pedidos de quebra de sigilo que foram suspensos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e voltar a apresentá-los à Corte.

Entre as empresas na mira dos requerimentos, estão o laboratório Apsen, produtor de cloroquina e que chegou a fazer propaganda do tratamento precoce; a Vitamedic, fabricante de ivermectina; e a Precisa, fornecedora da vacina indiana Covaxin para o Brasil.

Sobre a Apsen, de propriedade do empresário bolsonarista Renato Spallicci, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse haver indícios de que o presidente da República teria cometido advocacia administrativa em benefício da farmacêutica. O crime de advocacia administrativa ocorre quando um agente público usa a máquina para favorecer interesses privados. “No caso da Apsen, tem indício, no mínimo, de advocacia administrativa. O presidente da República interveio junto ao primeiro-ministro da Índia para ter acesso a insumos de hidroxicloroquina para produção no Brasil”, afirmou Rodrigues.

Já com a Vitamedic, há suspeitas de que a empresa teria financiado a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada, incluindo repasses para o grupo Médicos Pela Vida, composto por entusiastas da cloroquina. Os senadores também querem entender a predileção do chefe do Palácio do Planalto pela vacina indiana Covaxin, da Precisa. Segundo o senador, na contramão do que o presidente afirmou sobre outros imunizantes, nesse caso, ele se interessou pelo produto mesmo sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“É a que temos mais informações. Um executivo compareceu à Embaixada do Brasil em Nova Delhi, na Índia, falando sobre a vacina. No dia seguinte, o presidente da República procura o primeiro-ministro indiano e diz ter interesse na vacina advogada no dia anterior. Mas, 15 dias antes, o presidente havia dito que tinha R$ 20 bilhões para comprar quantas vacinas quisesse e que não tinha interesse em vacinas”, destacou. “Não aconteceu com a Pfizer, CoronaVac ou Astrazeneca, que foi a vacina oficial. Isso é estranho. Em fevereiro ou março, tem nova reunião em Nova Delhi. Posteriormente, a Anvisa desqualifica a vacina e diz que o laboratório não tem condições higiênicas. Ele (Bolsonaro) disse que não firmou contrato com a CoronaVac porque não tinha autorização da Anvisa. A Pfizer, a mesma coisa. E em fevereiro firma contrato com a Covaxin sem autorização (da agência) em R$ 1,6 bilhão.”

Judicialização

Rodrigues também comentou sobre os pedidos de quebra de sigilo suspensos pelo STF. “Amanhã (hoje), todos os sigilos que o Supremo suspendeu, nós vamos reapresentar, fundamentados, para tentar convencer os senhores ministros que deliberaram pela suspensão”, frisou.

Foram aprovadas na CPI as quebras de sigilo de 19 pessoas, três empresas e uma associação. Alguns alvos já foram ao Supremo, que manteve uns e barrou outros. Na segunda-feira, o ministro Luís Roberto Barroso suspendeu as quebras de sigilo telefônico e telemático (de mensagens) de dois ex-servidores do Ministério da Saúde: Flávio Werneck, ex-assessor de Relações Internacionais da pasta na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello; e Camile Giaretta Sachetti, ex-diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia.

O ministro Nunes Marques também suspendeu as quebras aprovadas contra o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco, que atuou na pasta na gestão do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e que hoje é assessor na Casa Civil. O magistrado também barrou a quebra relativa ao secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Helio Angotti Neto.

Outros pedidos foram indeferidos, como o da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro; e de Pazuello, decisões do ministro Ricardo Lewandowski; e do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e da coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fontana Fantinato, determinações do ministro Alexandre de Moraes.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação