Para pôr um fim à herança de desmonte deixada pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o novo chefe da pasta, Joaquim Álvaro Pereira Leite, teria que, primeiro, demitir o presidente da República. A brincadeira, feita por um ambientalista ao Correio, traduz o sentimento geral de que não haverá mudanças na condução do ministério, que continuará seguindo a cartilha de Jair Bolsonaro. Apesar disso, para analistas políticos, há a tendência de que Leite não consiga ser tão impopular quanto Salles. Isso porque o antecessor já deixou grande parte do estrago feito.
Joaquim Leite tomou posse na mesma tarde em que Salles pediu demissão, em cerimônia discreta e a portas fechadas. E entre os legados negativos que assume, estão o fim da autonomia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que têm uma defasagem de funcionários calculada em quatro mil pessoas. Compõe, ainda, o pacote de problemas deixados por Salles a nomeação de policiais militares em secretarias do ministério; a redução da participação da sociedade civil no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama); a dissolução da Secretaria de Mudança do Clima e Florestas do MMA; o fim do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia; e a criação de instâncias para prejudicar processos e livrar infratores de multas por desmatamento ou queimada.
Parlamentares temem, ainda, que o ex-ministro fuja para o exterior para escapar aos processos nos quais está envolvido. Deputados e senadores procuraram o Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, para solicitar a apreensão do passaporte de Salles.
O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) comemorou a saída do ex-ministro, mas disse acreditar que Joaquim Leite tem a chance de fazer um trabalho diferente. “Desejo muita sorte, apesar do histórico. É ligado ao setor de concessões florestais, mercado de carbono e sabe o que precisa ser feito. Sabe que a imagem do agronegócio está ruim lá fora. Teremos Cúpula de Biodiversidade (das Nações Unidas), Cúpula do Clima e o Brasil vai ser cobrado. Na última conferência, ficamos atrás dos países produtores de petróleo, atrapalhamos as negociações”, disse o parlamentar. Sua avaliação foi endossada pela também deputada Joenia Wapichana (Rede-RR).
O ambientalista Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne 37 entidades da sociedade civil voltadas para a causa ambiental, não vê a mudança com otimismo. “A política ambiental no Brasil é definida pelo presidente, assim como é na Saúde. No combate à pandemia, tivemos quatro ministros, quem manda é o Bolsonaro. Joaquim Leite aceitará a política do presidente. E a política é deixar o MMA em uma situação de terra arrasada”, avaliou.
Gestora ambiental e membro da ONG Greenpeace, Thais Bannwart vai na mesma linha. “Não dá para celebrar e dizer que a política vai mudar, apesar de a saída do Salles ter sido necessária. É uma política de governo. E ele (Joaquim Leite) tem a visão atrelada ao agronegócio. A formação dele não é na área ambiental”, destacou.
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