Escândalo das vacinas

Denúncias de propina reforçam pressão contra líder do governo e Bolsonaro

Partidos de oposição preparam representação contra Ricardo Barros no Conselho de Ética da Câmara e novo pedido de impeachment contra o presidente da República

Luiz Calcagno
postado em 30/06/2021 00:38 / atualizado em 30/06/2021 00:38
 (crédito: MIGUEL SCHINCARIOL)
(crédito: MIGUEL SCHINCARIOL)

A revelação de que dois casos de pedidos de propina ligados a vacinas contra a covid-19 são relacionados ao líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), trará força para uma representação contra o parlamentar no Conselho de Ética da Casa. O texto está sendo confeccionado por assessores jurídicos do PSol, e o partido quer que as demais legendas de oposição subscrevam o documento, para que ele ganhe peso político.

A ideia é que a representação seja entregue ao colegiado na quinta. Além disso, os partidos também apresentarão, na tarde desta quarta, um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, reunindo elementos colhidos dos mais de 100 já protocolados na Câmara, e acusando o chefe de governo de prevaricação por não ter agido para barrar um esquema de superfaturamento de vacinas.

O presidente tomou ciência em março de um esquema envolvendo a compra do imunizante indiano Covaxin, segundo denúncia feita pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e pelo irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF). Ontem o deputado afirmou que também foi procurado para receber propina e não atrapalhar as negociações. Segundo Miranda, Barros estaria por trás dessa manobra.

A líder do PSol, Taliria Petroni (RJ), disse que o Conselho de Ética também contribuirá com as investigações ao avaliar o caso de Ricardo Barros. Seria uma saída politicamente estratégica, já que a CPI não prosperou na Câmara e, por outro lado, avança bem no Senado. “O Conselho de Ética é para investigar. Na oposição, tem alguns parlamentares que insistem no caminho da CPI, mas diante da CPI que do Senado, o papel da Câmara é abrir o pedido de impeachment. E o que não falta é crime com esse governo”, argumentou.

A base do governo na Casa trabalha para invalidar a CPI. Um dos parlamentares fieis a Bolsonaro, Bibo Nunes (PSL-RJ) diz não ver sentido nas denúncias e que as denúncias de Luis Miranda não têm fundamento. “Essa CPI é uma comédia, uma perda de tempo, com pessoas que não tem idoneidade nem para comandar uma CPI e cobrar postura séria. Não vejo fundamento na cobrança da Covaxin. Não houve dolo. O documento foi retificado. É muita futilidade. Lamentável. O Luis Miranda é uma pessoa que gosta de flash. Ele viu esse fato como uma oportunidade para ficar em frente aos holofotes, mas acabou encontrando as trevas. Não tem fundamento o que ele disse”, argumentou.

Um dos vice-líderes do governo, Evair de Melo (PP-ES), vai na mesma linha. E afirma que a comissão não causa impacto na Câmara. Mas nem toda a direita pensa assim. Um dos dirigentes do PSL, o deputado Junior Bozzella (SP) é favorável à CPI. Ele discorda do momento em que a oposição quer levar Barros ao Conselho de Ética, mas defende que o deputado preste explicações ao colegiado. Para Melo, seria preciso esperar o andamento das investigações. “Os fatos precisam ser esclarecidos. O presidente da República não se posicionou até agora. Temos a questão do Ricardo Barros dizendo que não tem nada a ver (com isso). A CPI tem que apurar e evidenciar os fatos. É prudência. É preciso dar o benefício da dúvida para o acusado. Bolsonaro falou o primeiro nome que veio na cabeça? Vindo do presidente, tudo é possível. Tudo ele esconde, mente”, criticou.

Produtividade

Para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o trabalho no Senado está mais lento por conta do desvio de foco provocado pela CPI da Covid. Lira teceu comentários sobre o colegiado na tarde de ontem, ao ser questionado sobre a prorrogação dos trabalhos da CPI. “A decisão de adiar (o fim dos trabalhos) é dos senadores. O que se tem demonstrado até agora é que o Senado está tendo uma produção menor”, disse o deputado. Em seguida, Lira amenizou. “Mas é normal. É do processo democrático. A Câmara continuará trabalhando normalmente”, afirmou o parlamentar.

Lira também comentou as denúncias do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, Luis Ricardo Miranda, sobre a tentativa de compra superfaturada da vacina indiana Covaxin. “A declaração do deputado Miranda é dele. A responsabilidade de comprovar o que disse, também. A CPI vai ter possibilidade de caminhar com esse assunto”, comentou.

Mais um pedido

Parlamentares vão protocolar o chamado “super-pedido de impeachment” na Câmara às 15h de hoje. O documento reúne acusações de outros mais de 100 requerimentos e reforça a necessidade do impedimento de Bolsonaro a partir de fatos surgidos na CPI, incluindo a suposta prevaricação do presidente da República. Questionada sobre a postura do presidente da Casa, que até agora afirma não ver base para o processo político, a deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS) afirmou que a pressão virá das ruas. A estratégia é que as manifestações de oposição deem peso ao pedido de impeachment.

“Vamos focar muito na prevaricação de Jair Bolsonaro. Ele soube (do superfaturamento), mas não fez nada. Acho que tem muito mais que isso. Um dos sócios da Precisa é próximo do Flávio Bolsonaro, que abriu para ele as portas do BNDES. Os indícios são muitos, o super pedido vai focar nisso e nos outros 120 pedidos”, disse. E sobre a pressão para que Lira aceite, “não tem outro jeito que não seja rua”, disse. “Tentamos de tudo para enfrentar o governo, e tivemos que enfrentar o vírus. Quando o governo é pior que o vírus, é preciso ir às ruas”, afirmou, destacando que há manifestações previstas para o próximo sábado.

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