INVESTIGAÇÃO

Luís Miranda com Bolsonaro: "Jamais vou dizer que não existe gravação"

Em depoimento à Polícia Federal, parlamentar deu detalhes sobre suposta prevaricação do presidente Jair Bolsonaro ao saber de esquema de fraudes na compra de vacinas. Ele diz que o irmão avisou a integrante da PF sobre pressões que sofria para aprovar importação da vacina

Renato Souza
postado em 27/07/2021 21:19
 (crédito: Minervino Júnior.CB/DA Press)
(crédito: Minervino Júnior.CB/DA Press)

O deputado Luís Miranda prestou depoimento à Polícia Federal, em Brasília, na segunda-feira (26/07). O parlamentar foi ouvido no âmbito de um inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro cometeu o crime de prevaricação.

A oitiva durou mais de quatro horas. O parlamentar disse ter informado que um delegado da corporação é testemunha das pressões que o irmão dele, Luís Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, sofreu para aprovar a entrada da vacina indiana no território nacional. O congressista disse não ter gravação do momento em que o chefe do Executivo foi informado do caso, mas não descarta que o material exista.

Durante o depoimento, Luís Miranda apresentou arquivos de conversas trocadas entre ele e o irmão, além de diálogos com outras pessoas. Bolsonaro teria sido informado da suposta fraude no contrato de aquisição da Covaxin em 20 de março deste ano, mas não teria levado a denúncia à frente, e informado a Polícia Federal, para que o tema fosse investigado. Os irmãos Miranda dizem ter informado ao presidente que existiam pressões para aprovar a importação do imunizante para o Brasil.

Umas das ilegalidades seria a cobrança de propina, que teria envolvido empresários, políticos e militares. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 revelou novos fatos, como visitas de representantes da Precisa Medicamentos, que tentou vender a Covaxin ao governo, e de ofertas supostamente superfaturadas pelo imunizante, além de documentos com informações suspeitas.

“Temos um delegado da Polícia Federal como testemunha de que meu irmão estava passando por isso. É uma testemunha importantíssima. No dia 20 ele falou com esse delegado que estava sendo pressionado e precisava de ajuda. Inclusive, provavelmente, ele quem encaminhou ao Ministério Público, e a procuradora chamou ele no dia 24 do três”, disse Miranda.

Miranda detalhou como Bolsonaro foi informado da suposta fraude. “Nós levamos ao presidente dia 20/03 todas as informações. Entregamos matérias, inclusive uma que tinha a foto do Ricardo Barros… Eu fiz uma timeline histórica sobre o caso. Inclusive em um grupo com várias testemunhas, em que ele questiona o que está acontecendo. Meu irmão me mandou mensagens no privado e eu pedi para ele conversar com um delegado da Polícia Federal. Ele disse que já tinha recebido ligação do dono da empresa, do diretor para resolver aquilo naquele dia”, diz.

De acordo com o parlamentar, o delegado da PF deve ter levado o caso ao Ministério Público, pois dias depois uma procuradora chamou Luís Ricardo Miranda para depor. Ele negou que tenha em seu poder um áudio gravado no dia da reunião com Jair Bolsonaro. “Eu jamais gravaria um presidente. Acho imoral, no meio político ,gravar colega. Mas jamais vou dizer que não existe gravação. Até mesmo porque já vi algumas pessoas dizendo que a gravação tem tantos minutos. Agora, eu não tenho nenhum arquivo do tipo”, ressaltou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação