ELEIÇÕES

Cotado à Presidência, Pacheco diz que agora não vai discutir as eleições de 2022

A ideia que envolve a candidatura de Pacheco é apresentar um candidato moderado, compondo uma terceira via

Conhecido por seu perfil moderado e pela habilidade de articulação, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), vem sendo citado como potencial candidato à Presidência da República, em 2022. Mas, ontem, ele procurou afastar as especulações de que esteja pensando no pleito do ano que vem e disse que está focado nos desafios atuais, como a pandemia. E afirmou que o momento é inadequado para debater assuntos relacionados ao pleito do ano que vem neste momento.

“Não discutirei agora o processo eleitoral de 2022. Meu compromisso é com a estabilidade do país, e isso exige foco nos muitos problemas que ainda temos em 2021”, afirmou. Já se sabe, no entanto, que as conversas de Pacheco com Gilberto Kassab, presidente do PSD, estão avançadas e a ida do senador para o partido de centro é quase certa nos bastidores de Brasília.

A ideia é se apresentar como um candidato moderado, compondo uma terceira via e fazendo frente aos pré-candidatos que hoje lideram a disputa: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. Pacheco ainda é considerado aliado do presidente da República e, inclusive, relutou em instalar a CPI da Covid em abril deste ano. Quando o assunto foi parar no STF, no entanto, o presidente do Senado resolveu instalar a comissão de inquérito, o que irritou o Palácio do Planalto.

Desde então, a relação entre Pacheco e Bolsonaro está bem diferente daquela que o chefe do Executivo tem com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na semana passada, o senador rebateu nota publicada por comandantes das Forças Armadas e pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que atacou o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid.

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Afastamento

Ele também se posicionou contra as declarações de Bolsonaro, que tem tentado colocar em xeque a realização do pleito em 2022 caso o Congresso não aprove a PEC do voto impresso. “Nós não admitiremos especulações em relação à frustração das eleições de 2022. É algo que o Congresso repudia, evidentemente. Isso não decorre da vontade do presidente do Senado ou da Câmara, da República ou do Tribunal Superior Eleitoral. Isso advém da Constituição, à qual devemos obediência”, disse. Ele afirmou, também, que as eleições são “inegociáveis”.

A possível mudança de Pacheco para o PSD dependerá de quando se dará a de Geraldo Alckmin, hoje no PSDB, para o partido de Kassab, com vistas a concorrer ao governo de São Paulo. Ele se junta a outros nomes como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Mas, dentro do DEM, Pacheco ainda é era observado como um possível candidato pela sigla, ao lado de Luiz Henrique Mandetta. Segundo fontes da legenda, pesquisas com o nome do senador e do ex-ministro da Saúde chegaram a ser encomendadas. Analistas apontam, no entanto, que a desenvoltura de Pacheco no Congresso não lhe garante força política em eleições majoritárias nacionais.

“Pacheco dispensa comentários, é um grande articulador. Ele começou há pouco tempo e já é presidente do Senado. Mas eu não vejo uma candidatura dessa indo para a frente”. “Ele nos últimos anos é quem tem mais conversado com lideranças partidárias no Congresso. Mas o considero um candidato fraco”, pontua o cientista político André Rosa. O especialista acredita que, se Pacheco continuasse no DEM, poderia ser engolido por uma eventual candidatura de Mandetta.

O cientista político Eduardo Grin, professor da FGV, avalia a situação de forma semelhante. “É bom pra ele [Pacheco] que o nome circule, mas acho que na hora H, se o centro se consolidar, tem que ter nomes mais viáveis. Ele é um senador muito regional, tem começado a estabelecer pontes com o empresariado e acho que ele ainda está verde para alcançar uma candidatura grande. Precisa construir uma caminhada forte para não ser engolido por Mandetta ou Doria”, afirmou.