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Ciro Nogueira terá missão de apaziguar relação entre Congresso e Planalto

Com bom trânsito no Congresso e prestes a assumir a Casa Civil, Ciro Nogueira terá a missão de contornar o mal-estar no Parlamento causado pela pressão de Bolsonaro a favor do voto impresso e amenizar impactos ao governo da CPI da Covid

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) assumirá a Casa Civil do governo federal em um dos momentos mais delicados da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Não bastassem as denúncias de corrupção levantadas pelas investigações da CPI da Covid, o chefe do Planalto é alvo de críticas no Parlamento por causa das ameaças feitas às eleições do ano que vem e pela pressão que tem feito para o Congresso Nacional aprovar o voto impresso.

Diante disso, Nogueira, por mais que deixe de frequentar o Legislativo, continuará atuante entre deputados e senadores. Um dos titulares da CPI da Covid, ele buscará amenizar os efeitos da investigação do colegiado, que terá até novembro para buscar mais informações sobre irregularidades do governo na condução da crise sanitária. Para isso, o senador aposta nos seus 26 anos de parlamentar e na reputação de conciliador.

A experiência de Nogueira no Congresso foi determinante para que Bolsonaro o convidasse a integrar o Executivo, pois o presidente espera que o senador repita a atuação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Desde a eleição do deputado ao cargo, o chefe do Planalto conseguiu sedimentar o apoio que tem na Câmara e ainda garantiu que aliados assumissem postos importantes dentro da Casa, como Bia Kicis (PSL-DF), que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e Carla Zambelli (PSL-SP), à frente da Comissão de Meio Ambiente.

Na avaliação de governistas, Nogueira tem de tudo para fazer algo parecido, pois “reúne as credenciais para ampliar o apoio ao governo, avançar com a agenda econômica e contribuir para a construção de políticas públicas”, como afirmou o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

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Melhor que Ramos

Bolsonaristas confiam na boa interlocução que Nogueira tem entre os parlamentares, sobretudo com Lira e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para dar sobrevida ao chefe do Planalto mesmo em meio à CPI. De acordo parlamentares, com o atual ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, Bolsonaro dificilmente teria chances de mudar o cenário, visto que o general nunca agradou à maioria do Congresso, pela falta de um diálogo mais assertivo.

O político piauiense também poderá ter sucesso porque vai assumir o ministério responsável por oficializar todas as ações do governo, sobretudo as que dizem respeito ao direcionamento de recursos orçamentários. Conhecedor do ambiente legislativo, usará, portanto, o poder da caneta para apaziguar as relações do Palácio do Planalto com o Parlamento.

“A Casa Civil é o nosso ministério mais importante, é o que trata, inclusive, da coordenação entre os ministérios. Então (Nogueira), é uma pessoa que nos interessa pela sua experiência e pode, no meu entender, fazer um bom trabalho”, admitiu Bolsonaro, em conversa com apoiadores nesta semana.

Indicações

Nogueira também terá de arregaçar as mangas para diminuir a resistência que há no Senado à indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) e à recondução de Augusto Aras à Procuradoria-Geral da República (PGR). Para que assumam os respectivos cargos, os dois precisam da aprovação dos senadores. O senador foi o responsável pela indicação do até então desconhecido Kassio Nunes Marques para o STF.

Relatos de parlamentares dão conta de que o Planalto não fez grandes movimentos para pedir o apoio da Casa nem a Mendonça nem a Aras. O AGU, especificamente, procurou senadores por iniciativa própria para pedir votos. A falta de ação do Executivo não é bem-vista dentro do Senado, pois os congressistas esperam motivos relevantes para concordar com a indicação dele ao Supremo.
O novo ministro de Bolsonaro deve preencher essa lacuna e evitar uma dor de cabeça maior para o presidente. Em especial, porque o presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), quer retardar a sabatina de Mendonça no colegiado. O político do Amapá resiste à ida do advogado-geral da União ao STF porque ainda está insatisfeito com o governo por não ter assumido nenhum ministério depois que deixou a presidência do Senado.

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Os “limites” do senador

A oficialização do senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil deve ocorrer na segunda-feira, quando o parlamentar retorna do recesso e terá encontro com o presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo quer falar quais serão os “limites” do parlamentar e fazer essa proposta para ele. De acordo com o mandatário, a medida provisória para a nomeação está pronta, mas só ele só vai oficializar Nogueira após essa conversa.

Réu na Lava-Jato, o senador é representante do Centrão, ala mais fisiológica da política nacional e tem o controle sobre a máquina partidária do PP. A nomeação dele à Casa Civil faz parte da estratégia do governo para ampliar a base de apoio no Congresso, onde a sigla tem 10 representantes na Câmara e sete, no Senado. De acordo com Bolsonaro, a indicação de Nogueira é para tornar o governo mais proativo, “para a gente aprovar nossas propostas”.