CPI da Covid

"Bravata minha", sustenta reverendo após ter dito que se reuniu com "quem manda"

Amilton Gomes negou qualquer encontro com Bolsonaro. Mensagens no celular de Dominghetti apontam, contudo, que ele se reuniu com mandatário

Sarah Teófilo
postado em 03/08/2021 15:32 / atualizado em 03/08/2021 15:35
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

O reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), disse nesta terça-feira (3/8) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, que foi pressionado sobre um diálogo que teve com o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, apontado como vendedor autônomo de vacinas da empresa americana Davati Medical Supply. No diálogo, o reverendo disse à Dominghetti que havia conversado “com quem manda”, quando discutiam a negociação de imunizantes que a Davati buscava vender ao Ministério da Saúde. Aos senadores, disse que isso foi "bravata".

No dia 16 de março, o reverendo enviou a seguinte mensagem a Dominghetti: “Bom dia! Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!” Ele respondia a Dominghetti, que tinha perguntado se haviam lhe posicionado sobre algo. “O ministério nem respondeu o e-mail da Davati”. Questionado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), afirmou: “Isso aí foi uma bravata minha”.

A resposta gerou irritação do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), tendo em vista que ele foi orientado pelo advogado a responder dessa forma. “Eu ouvi o senhor (advogado) dizer: ‘diz que é uma bravata‘“. A conversa de Amilton Gomes vem em um contexto no qual Dominghetti conversa com outras pessoas que citam que o reverendo estaria se reunindo com o presidente Jair Bolsonaro.

No próprio dia 16 de março, por exemplo, Dominghetti falou com uma mulher identificada como “Maria Helena Embaixada”, que seria auxiliar do reverendo. Ela afirma: “Ontem o rev (reverendo) esteve com o presidente”. Em outro momento, no dia 15 do mesmo mês, Dominghetti conversa com uma pessoa identificada como “Amauri Vacinas Embaixada”, em que o cabo pergunta: “Como foi a visita do reverendo ao 01?”, ao que Amauri responde: “O reverendo nesse momento está com o 01”. Antes disso, no dia 8, Dominghetti pergunta para Amauri: “Tem previsão do horário desta reunião do reverendo com 01?”

Apesar da atuação ao lado da Davati, o reverendo afirmou à CPI que não estava negociando vacina. “Eu estava ali indicando alguém que teria essas vacinas”, afirmou. Apesar disso, em um e-mail enviado por Laurício Cruz, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, em 23 de fevereiro, um dia depois de o reverendo se reunir com ele na Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), Laurício agradeceu a presença da Senah e a apresentação da proposta de 400 milhões de doses da AstraZeneca, dizendo ainda que os processos deveriam ser direcionados à secretaria-executiva, então comandada pelo coronel Elcio Franco.

Michelle Bolsonaro

Além da “bravata” citada pelo reverendo, ele foi questionado sobre uma mensagem enviada por Dominghetti a outro interlocutor, dizendo que a primeira-dama Michelle Bolsonaro “está no circuito junto com o reverendo". Sobre isso, Gomes disse que “era para mostrar algo que não tinha”.

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