CPI DA COVID

Reverendo nega relação com governo, mas ao pedir reunião foi recebido no mesmo dia

Rapidez intriga senadores após Amilton Gomes afirmar não conhecer ninguém do governo, e dizer que pegou o e-mail após pesquisas no Google. Pfizer, por sua vez, teve carta não respondida e envio de 80 e-mails buscando negociar imunizantes

Sarah Teófilo
postado em 03/08/2021 14:42
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), disse nesta terça-feira (3/8) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado Federal, que não possui relação com ninguém do governo federal. Ainda assim, enviou um e-mail à Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) no dia 22 de fevereiro, às 12h, pedindo uma reunião às 16h30, e foi recebido na pasta do Ministério da Saúde.

A questão intriga os senadores, que o questionam sobre a rapidez em que teve um retorno, tendo em vista o ocorrido com outros imunizantes. Os parlamentares lembraram da Pfizer, por exemplo, que enviou uma carta que ficou dois meses sem resposta, além de e-mails ignorados. “Queremos entender o porquê da sua relação prestigiosa com o Ministério da Saúde de tal forma que viesse a intermediar e a apresentar pessoas ao Ministério da Saúde”, afirmou o senador Eduardo Braga (MDB-AM). Amilton negou que conheça o presidente Jair Bolsonaro, ou qualquer pessoa do governo federal.

“Nos espanta aqui nesta Comissão Parlamentar de Inquérito é que farmacêuticas do mundo todo, que estavam vendendo vacinas diretamente, não tiveram esse tratamento. O Instituto Butantan não teve esse tratamento, a Pfizer não teve esse tratamento, a Janssen”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Amilton Gomes justificou que fez uma pesquisa e encaminhou o e-mail. “Creio que, pela urgência da demanda, da escassez, do que nós estávamos vivendo, nós fomos recebidos”, afirmou.

De acordo com o reverendo, depois de contato do cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, que dizia ser vendedor de vacinas autônomo pela empresa americana Davati Medical Supply, ele tentou contato com o Ministério da Saúde para falar sobre a empresa que estava oferecendo vacinas contra covid-19. Segundo Amilton, na SVS, ele foi recebido por Laurício Cruz, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Em e-mail enviado por Laurício ao reverendo no dia seguinte, dia 23 de fevereiro, Laurício agradece a presença da Senah e a apresentação da proposta de 400 milhões de doses da AstraZeneca, vacina que seria comercializada pela Davati, dizendo ainda que os processos deveriam ser direcionados à secretaria-executiva, então comandada pelo coronel Elcio Franco. À CPI, o reverendo confirmou que na reunião com a SVS foi encaminhado à secretaria, e que não possui relação com Laurício.

No dia 24, enviou um e-mail à referida pasta e conseguiu uma reunião no dia 2 de março. O encontro não ocorreu naquele dia, pois Dominghetti não foi a Brasília na data, mas acabou acontecendo no dia 12 de março, com a presença de Elcio Franco.

Suspeita

Os senadores estão questionando amplamente a informação de que o reverendo não conhece ninguém do governo. "Me desculpe, reverendo, mas não dá para acreditar nisso, não dá para acreditar nisso. É muito furada essa história", disse Omar Aziz. O senador Humberto Costa (PT-PE) ainda questionou como Dominghetti chegou ao reverendo e "descobriu este dom" de Amilton "de vender vacina". "Realmente, é até uma coisa difícil de a gente acreditar: é como se tivesse caído do céu", afirmou.

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