CPI da Covid

Auditor do TCU confirma ter sido indicado a cargo de diretor no BNDES

Presidente Bolsonaro usou análise preliminar feita por Alexandre Figueiredo para falar em suposta supernotificação de mortes por covid-19. Auditor afastado disse que o estudo foi usado pelo mandatário de forma indevida e que documento foi alterado

Sarah Teófilo
postado em 17/08/2021 15:22
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo confirmou nesta terça-feira (17/8), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, que foi indicado a um cargo de diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A informação chegou a ser divulgada em junho, depois que o presidente Jair Bolsonaro usou uma análise feita pelo auditor, remetendo ao TCU (que negou a autoria do documento), para dizer a seus apoiadores que havia supernotificação de mortes, apontando que os óbitos foram inflados pelos gestores locais.

Figueiredo afirmou que enviou a análise, feita por ele de maneira preliminar e não sendo um documento oficial do tribunal, ao seu pai, o militar da reserva Ricardo Marques, gerente executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, no dia 6 de junho. Ele, por sua vez, “mantém relações de contato” com o presidente Bolsonaro, como confirmado por Figueiredo na oitiva. “Eles foram colegas na Academia Militar das Agulhas Negras e trabalharam juntos depois, no Exército”, explicou.

Questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre quem o indicou à Diretoria de Compliance do BNDES, em 2019, o auditor afirmou que foi o próprio presidente Gustavo Montezano. Montezano é amigo do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), filho do mandatário. Figueiredo, entretanto, não foi cedido pelo Tribunal de contas da União. “Existe uma resolução administrativa do tribunal que veda a cessão de servidores do TCU para outros órgãos, excetuados casos excepcionais, que são deliberados pelo colegiado. E, na ocasião, entendeu-se que não seria o caso de haver a minha cessão e não foi deferido”, afirmou.

À CPI, o auditor disse que em nenhum momento informou que “houve supernotificação de óbitos por covid-19 no Brasil”, mas que “apenas havia compilado algumas informações públicas para provocar um debate junto à equipe de auditoria”. De acordo com ele, em um cenário no qual não havia previsão orçamentária, começou a se discutir com a equipe “se eventuais inconsistências de notificação poderiam causar uma distribuição dos recursos federais sem equidade e sem proporcionalidade às reais necessidades de cada ente subnacional”.

“Assim, comecei a pesquisar na internet alguns pontos para começar a provocar essa discussão junto à equipe de auditoria”, disse. Ele conta que compilou dados no Portal da Transparência do Registro Civil e apresentou as informações à equipe de auditoria no dia 31 de maio. Entretanto, em conversa com a colega que estava coordenando o trabalho, concordou-se que “seria impossível haver um conluio para deliberadamente supernotificar os casos de óbitos de covid-19”. O depoente frisou que o documento foi elaborado apenas para gerar um debate interno.

“Confidente”

Dias depois, enviou o documento ao pai e, sem que ele soubesse, conforme o depoente, este enviou o documento ao presidente da República. Segundo Figueiredo, o documento que passou a circular, com o nome do TCU, não foi o mesmo enviado por seu pai ao presidente. Ou seja, a falsificação teria ocorrido após ser repassado ao mandatário, mas o auditor afastado não soube dizer quem fez a alteração.

A justificativa de Figueiredo, que diz ter repassado o documento ao pai sem nenhuma finalidade, apenas por ser ele o seu “confidente”, não convenceu alguns senadores. Fabiano Contarato (Rede-ES) criticou o depoente, e afirmou que ele enviou a análise ao seu pai, amigo do presidente, com o intuito de que chegasse ao mandatário. "Você sabia que o seu pai tem relação com o presidente e que esses dados iriam chegam até ele”, afirmou.

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