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Protestos em 7 de setembro: Congresso e STF pedem reforço na segurança

Senado, Câmara e Supremo solicitam ao GDF medidas para evitar eventuais protestos violentos na Esplanada no 7 de Setembro. Apoiadores de Bolsonaro, inclusive PMs, têm convocado manifestações contra o Parlamento e a Corte

As manifestações marcadas para o 7 de Setembro entraram no radar das secretarias estaduais de segurança pública e do Congresso. Isso porque são esperados atos a favor e contra o presidente Jair Bolsonaro na maioria dos estados. Ontem, líderes de oposição na Câmara assinaram um requerimento para convocar o ministro da Justiça, Anderson Torres, a explicar as medidas tomadas pela pasta para evitar ataques contra instituições no feriado.

Com temor de protestos violentos, Senado, Câmara e o Supremo Tribunal Federal (STF) pediram ao governo do Distrito Federal um reforço na segurança da Esplanada dos Ministérios. Fontes ouvidas pelo Correio afirmam que, apesar de ainda não existir um planejamento especial, os militares estão preparados para conter qualquer possível ação violenta. A principal preocupação é com a presença de radicais bolsonaristas, incluindo policiais militares.

O governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou ponto facultativo às vésperas do feriado para evitar aglomerações e confusão. A reportagem questionou o chefe do Executivo local sobre outras estratégias para evitar conflitos e sobre os riscos de manifestações antagônicas. Ele afirmou que “manterá a segurança da população e dos manifestantes pacíficos”, e que o plano de contingência está sendo elaborado pela Secretaria de Segurança (SSP/DF).

Nesta semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastou um coronel da Polícia Militar que convocou colegas a participar de ato pró-Bolsonaro no Dia da Independência. Por lei, a participação de PMs em atos políticos é vedada. As forças de segurança também estão atentas a vídeos publicados nas redes sociais, nos últimos dias, que incitam a população a praticar atos criminosos e violentos contra o STF e o Congresso.

Também em São Paulo, a ação Fora Bolsonaro, que reúne mais de 80 movimentos e marcou manifestações contra o presidente da República em todo o país, foi proibida de fazer protestos neste 7 de Setembro. Apesar de ter marcado os atos antes dos bolsonaristas, perdeu o direito de usar a Avenida Paulista, por uma decisão da PM. Assim, mudaram a manifestação para o Vale do Anhangabaú — palco de protestos históricos das Diretas Já, na década de 1980.

Ontem, os organizadores foram informados de que a manifestação também seria vetada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) mesmo que ocorresse em outro local. “Nós ficamos chocados com a decisão do governador, porque não compete a ele autorizar ou vetar a realização de atos ou manifestações políticas”, disse Erick Santos, diretor do Movimento Acredito. “As forças de segurança têm o dever de garantir a segurança dos manifestantes. O veto é inconstitucional. Pretendemos recorrer ao STF para garantir nosso direito.”

Questionada, a SSP paulista afirmou que “a orientação é que as manifestações sejam realizadas em datas distintas” e que “as forças policiais atuarão em ambas as datas para garantir a segurança e o direito de todos”.

Sérgio Reis

Um dos que incitaram atos violentos no 7 de Setembro, o cantor Sérgio Reis depôs, ontem, na Polícia Federal por causa das ameaças a ministros do STF e por incentivar a invasão e a depredação do prédio da Corte. O artista disse aos agentes que não teve a intenção de propagar discurso de ódio e que está arrependido.

Desde o vazamento de áudios em que conclama manifestantes bolsonaristas a entrarem no STF para “quebrar tudo e tirar os caras na marra”, Sérgio Reis tem declarado que errou e até se desculpou. À PF, acrescentou que não pretende participar do ato que está sendo organizado para o 7 de Setembro em Brasília.

O depoimento ocorreu na noite de quarta-feira. A oitiva foi feita por videoconferência, pois o cantor teve de ser internado na véspera, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma infecção na próstata. O quadro de saúde dele é bom.

(Cristiane Noberto, Israel Medeiros, Luana Patriolino e Augusto Fernandes)

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Só dia 12

João Doria tem insistido que os atos contra Bolsonaro sejam feitos no dia 12, o que irrita os manifestantes que coordenam a campanha pelo impeachment do presidente. No dia 12, há um protesto do Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua, grupos de direita que migraram à oposição contra o governo.

Eleições de 2022

Na live, Bolsonaro também reconheceu caráter eleitoral do movimento do 7 de Setembro. “Muita gente vai estar falando sobre eleições. Nós queremos eleições. A eleição renova o quadro e traz esperança para todos”, destacou. Ele voltou pedir a adoção do voto impresso e com contagem pública. “Não é possível que o Datafolha diga que (Lula) tem 49% no primeiro turno, e no segundo teria 60% para ganhar de quem fosse”, disse o chefe do Executivo.

Bolsonaro: as manifestações serão pacíficas

O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que as manifestações marcadas para 7 de setembro em apoio ao governo e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) serão pacíficas e que eventuais atos violentos só poderão ser cometidos por “gente infiltrada”. O chefe do governo afirmou, também, que, até hoje, ninguém teve coragem de fazer baderna em protestos organizados por seus apoiadores, em razão da presença de muitos policiais militares e de membros das Forças Armadas à paisana.

“Os movimentos, e o pessoal simpático a nós, e eu sou simpático a esses movimentos também, não têm violência; está sendo marcado um grande evento no dia 7 de Setembro, em que o pessoal vai pedir o quê? Liberdade, cumprimento de dispositivos constitucionais, vão pedir o óbvio. Infelizmente, alguns desses direitos têm sido feridos ultimamente, e pode ter certeza: não tem nada de violento. Se tiver, pode ter certeza, que é gente infiltrada”, frisou, na sua live semanal. “Mas, até hoje, não tiveram coragem de se infiltrar ainda, até porque tem muito agente de segurança, muito policial civil, militar, das Forças Armadas, que não vão deixar esse pessoal fazer baderna e querer nos culpar. De jeito nenhum.”

Bolsonaro afirmou que participará das manifestações em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo. “Então, todos no Brasil, fiquem tranquilos. Esses movimentos, como sempre, não têm nada de violência; ninguém vai instigar, invadir alguma coisa, depredar, queimar, como a esquerda sempre fez”, ressaltou. “A gente vê os movimentos estudantis tocando fogo por aí, agredindo policiais, isso não existe nesses movimentos. E eu devo estar presente, de manhã, aqui em Brasília, às 10 horas, e às 15h30 na Paulista, em São Paulo.”

Armas

Mais cedo, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro festejou o fato de a população ter mais acesso ao porte e à posse de arma. Ele ironizou reportagens apontando que o número de aquisição dos equipamentos tem dobrado ano após ano e rebateu dizendo esperar que “quintuplique”.

“Hoje em dia, o homem do campo está mais tranquilo. Tiramos dinheiro de ONG, conseguimos, via decreto, dar o fuzil 762 para vocês, quem é CAC (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores). Conseguimos a posse ampliada. O elemento podia comprar a arma e usar dentro da casa na fazenda. Hoje, ele pode montar o cavalo ou pegar o jipe dele e andar na fazenda todo armado”, comemorou.

Segundo Bolsonaro, “quanto mais armado estiver o povo, melhor é para todo mundo”. “A imprensa, de novo, fazendo matéria esta semana, de que tem dobrado, ano a ano, o número de armas no Brasil. Eu quero que quintuplique”, disparou. “Quanto mais armado estiver o povo, melhor é para todo mundo, porque, enquanto a bandidagem estava armada com fuzil automático lá no Rio de Janeiro, a imprensa não falava nada, estava legal, estava bacana. Agora, quando o cidadão de bem está comprando arma, o pessoal critica.”

Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativo a 2020 mostra que o Brasil vive verdadeira corrida armamentista. Com dados da Polícia Federal, em 2017, o Sistema Nacional de Armas (Sinarm) contava 637.972 registros ativos de armas. Ao fim de 2020, o número subiu para 1.279.491, ou seja, aumento de mais de 100%.

Em fevereiro, Bolsonaro alterou quatro decretos federais, com o objetivo de desburocratizar e ampliar o acesso a armas de fogo e munições no país. Em maio, durante uma manifestação, ele afirmou, sob aplausos, que está, “cada vez mais”, legalizando as armas no Brasil. (Jorge Vasconcellos e Ingrid Soares)