INVESTIGAÇÃO

Relatório da CPI da Covid é adiado para dissecar relações do gabinete paralelo

Segundo o relator Renan Calheiros, CPI da Covid quer dissecar a relação da Prevent Senior com o "gabinete paralelo da saúde", que assessorava o Planalto, e estudar melhor o material obtido na sede da Precisa, depois da operação da PF da semana passada

Após reunião da cúpula da CPI da Covid, no último domingo, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) decidiu adiar a entrega do relatório final. Isso porque a comissão quer dissecar a relação da Prevent Senior com o “gabinete paralelo da saúde” e a questão da morte de pacientes que foram submetidos a uma experiência com o chamado “kit covid”, sem que soubessem. Além disso, com a operação, na semana passada, à sede da Precisa Medicamentos, em Barueri (SP), o colegiado quer aprofundar os dados daquilo que foi coletado.

Na agenda de oitivas da CPI, estão escalados o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário — convocado porque o órgão participou da operação, junto com a Polícia Federal, que trouxe à tona o suposto esquema de tráfico de influência do qual participava o empresário Marconny Albernaz de Faria; Pedro Benedito Jr., presidente da Prevent Senior — que deveria ter comparecido na semana passada, mas alegou ter sido avisado em cima da hora e não compareceu; e Danilo Trento, diretor da Precisa Medicamentos.

“Há um esforço, e é preciso reconhecê-lo, em função de desdobramentos óbvios dos últimos dias, de que nós podemos ter mais uma ou duas semanas de trabalho. Nessas condições, nós só vamos apresentar o relatório depois do último depoimento. Por enquanto, estamos acessando as últimas informações. Ainda estamos colhendo os depoimentos. Tudo isso fará parte do relatório. Estamos antecipando os debates sobre os tipos penais que serão utilizados”, afirmou Renan. A estimativa é de que o relatório final seja apresentado na segunda semana de outubro.

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Ajuste técnico

A comissão se reuniu, na última semana, com diversos grupos e entidades para identificar especificamente os crimes cometidos no episódio de negociação do contrato milionário que seria firmado entre o Ministério da Saúde e a Precisa para a compra das vacinas indianas Covaxin. Ontem, o encontro foi com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que se colocou à disposição para “colaborar na redação desses pareceres e se empenhará em ajudar no relatório final, seja na parte de indicar os crimes ou para indicar mudanças de lei, para que não volte a acontecer, e, depois, orientará no encaminhamento do relatório para os órgãos competentes” — salientou o jurista Pierpaolo Bottini, representante da OAB.

Segundo o advogado, a CPI tem pedido às entidades suas considerações em cima do parecer jurídico entregue pelo grupo Prerrogativas, coordenado por Miguel Reale Jr. “Eles precisam consultar a comunidade jurídica para ajudar na identificação de quais crimes específicos correspondem a esses fatos. A ideia é fundamentar melhor o relatório para entregar algo com mais apoio e respaldo”, observou.

De acordo com Renan, já são 26 nomes na lista de investigados que irão para o relatório final. Segundo fontes dos bastidores da CPI, há mais de 100 convocações na fila para serem feitas. Para Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, há, no momento, três prioridades. “Danilo Trento, Karina Kufa (advogada de Jair Bolsonaro) e Ana Cristina Valle (ex-mulher do presidente da República), nessa ordem. O mais importante é o Danilo”, explicou o senador, dando a entender que o dirigente da Precisa será confrontado com os novos elementos coletados na sede da empresa, na semana passada, pela PF.

Já o depoimento do diretor da Prevent Senior, se somará à linha de investigação sobre a influência do “gabinete paralelo da saúde” na escalada negacionista contra a covid-19 e as vacinas. Com base num dossiê entregue por médicos que trabalharam para a empresa, a CPI esmiuçou a suposta pesquisa que, inclusive, fraudou o número de mortos na experiência que realizou — disse terem sido duas mortes, quando, na verdade, ocorreram nove óbitos de pessoas que tomaram o chamado “kit covid”. Além disso, a suposta pesquisa chegou a ser apoiada publicamente por Bolsonaro, por seu filho Eduardo (deputado, PSL-SP) e por autoridades do governo. (Colaborou Fabio Grecchi)

Senador quer convocar filho 04 por ameaças

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apresentou um requerimento para convocar Jair Renan Bolsonaro na CPI da Covid. O parlamentar quer que Renan esclareça a relação com o lobista Marconny Faria e uma suposta ameaça a parlamentares. O filho 04 do presidente Jair Bolsonaro usou seu perfil no Instagram para provocar a comissão, mostrando a filmagem feita em um escritório, com homens armados, e na qual aparece um mostruário com cerca de 10 pistolas. “Aloooo CPI kkkkk”, escreveu. “A lei vale para todos”, disse o senador, ao anunciar o requerimento. O pedido deve ser avaliado pelos demais integrantes da comissão. Os senadores devem votar, hoje, uma série de solicitações na reunião do colegiado.